quarta-feira, 18 de abril de 2007

RELIGIÃO E IDOLATRIA

Postarei um trecho do livro Carta aos Romanos de Karl Barth sobre a diferenciação entre o relacionamento com Deus na visão da religião e na visão de Cristo. Excelente texto; veja:

Toda a religião conta com uma destas duas modalidades de interrelacionamento com Deus: ou irão praticar obras que sejam agradáveis a Deus, ou Deus retribuirá aos homens, de alguma forma notória, no procedimento (talvez na conversão) de uma pessoa, (grupo de pessoas) e do mundo, como resposta a essas obras. (orações, promessas, etc...)


Na primeira modalidade, pretende-se que o “crente” tenha a atitude, o procedimento que, de alguma maneira, possa justificar a reivindicação (ou a pretensão de provocar,) de produzir o beneplácito divino e assim, merecer a retribuição de Deus. (“Pois Deus retribuirá a cada um segundo o seu merecimento”...).

Na segunda alternativa, o “crente” espera que Deus “pagará”. (Deus retribuirá e responderá) às obras, provocando uma modificação na conduta, no procedimento, na atitude, das pessoas e da sociedade, resultados esses visíveis e reconhecíveis pelo mundo.

[...] Desta forma, o encontro do homem com Deus perde as suas características de total incomensurabilidade e de absoluta incomparabilidade para dar lugar à possibilidade de o homem gloriar-se divinamente daquilo que ele é, ou possui, ou faz.

[...] Em a nova contabilidade (nova forma de interrelacionamento), escriturada segundo o critério de Jesus, a situação muda radicalmente: não existem obras humanas que possam gerar o beneplácito divino ou que possam desencadear a ação de Deus para modificar a conjuntura do mundo.

Tudo o que no mundo ocorre está sujeito ao “NÃO” divino expresso (por Deus) em Jesus, e o mundo é convidado a esperar no “sim” de Deus, também em Jesus.
(Carta aos Romanos, pág. 167 – 168)

Curioso é que o livro de Barth (uma grande heresia para muito dos teólogos conservadores e fundamentalistas) foi escrito no começo do século XX. Quase Cem anos depois, o livro faz denúncias que parecem mais profecias acerca de uma iniqüidade que cresce continuamente nos nossos dias: a iniqüidade de não saber se relacionar com Deus somente pela fé, o que para Barth era idolatria.

É a “simples” questão de não se saber viver pela graça e pela fé dentro de um mundo corrompido, sujeito a inconstâncias e intempéries do desequilíbrio cósmico (o NÃO divino), procurando assim formas de se viver agradável perante Deus de alguma forma, barganhando com Deus nossas qualidades em troca de favores que transformem nossa vida num “mar de rosas”. Barth chama isso de religião, lei e idolatria, e você, do que chamaria isso?

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