terça-feira, 24 de julho de 2007

Teologia


Hoje faria tudo diferente.


Começaria por informar meus leitores de que teologia é uma brincadeira, parecida com o jogo encantado das contas de vidro que Hermann Hesse descreveu, algo que se faz por puro prazer, sabendo que Deus está muito além de nossas tramas verbais.


Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar...


Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar nosso corpo. Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne.


Rubem Alves


(OBS: Encontrei esse texto no site do Pr. Ricardo Gondim e colei aqui, então não é plágio, rsrs!)

sábado, 21 de julho de 2007

Recomeço


Comecei minha caminhada cristã admirando os escritores bíblicos e apóstolos. Lia Paulo e era como se estivesse na frente de um “ídolo” (desculpe a franqueza). Fui ensinado a me dedicar na leitura das epístolas e dos evangelhos; e à medida que eu ia me dedicando, ia nascendo uma maior admiração pelos escritores.


Desse ponto em que me encontrava para entrar no mundo dos teólogos, pensadores e comentaristas bíblicos foi apenas um pulo. Tornei-me assíduo consumidor de obras teológicas, das quais na li ainda nem metade (rsrrsrs). Precisava ler Barth, Agostinho, Berkhof e outros nomes da teologia. Alimentava-me das teses, doutrinas sistemáticas, opiniões e até mesmo das heresias, e era como estar sendo alimentado da própria Palavra de Deus.


Mas de uns tempos pra cá a coisa tem mudado um pouco. Na verdade estou cheio. Cheguei ao meu limite. Estou cansado de ser idólatra dos escritores bíblicos e de admirar a “infabilidade” dos mesmos. Cansei de ser de Paulo, de Pedro, de João. Cansei de ler simplesmente seus textos e ter que buscar exegese pra tudo.


Cansei também dos teólogos. Não quero mais ser fascinado pela linguagem difícil, da qual muitas vezes não entendia, mas achava “o máximo” pelo simples fato de ser difícil (rsrsrrs, quanta ignorância). Percebo que o edifício teológico ao longo desses séculos é tão mais alto quanto a Torre de Babel e tão mais incompreensivo quanto à confusão das línguas. Quero ficar em baixo, na terra mesmo, onde Deus desce e se encontra conosco. Tarde demais percebo que Deus quer de mim apenas fé, e não uma compreensão exaustiva e sistemática de sua essência e atributos; que Jesus pede apenas fé, e não uma compreensão exaustiva das suas hipóstases. Quanto mais degraus se sobem na Babel teológica, mais a arrogância do pedido da mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 20:20-21) toma conta de nós: estarmos sentados ao lado do próprio Deus, doutores em divindade.


Estou hoje buscando a Jesus desinteressadamente, e tenho me surpreendido, pois quando leio os evangelhos dessa forma, não é o Mateus, o Marcos, o Lucas e o João que me vem à mente, mas a presença do Nazareno, da sua fala, do seu agir. Às vezes tenho a impressão de que consigo sentir o seu respirar, ver o seu olhar, estar na sua presença. É a figura do Nazareno que eu quero admirar, entender e caminhar.


Tenho estado obcecado por tudo que trate de Jesus. Leio de tudo sobre esse Homem com simplicidade e verdade, sem teologismo, mas com leveza. Depois de muitos anos, vejo que preciso me aproximar mais do carpinteiro, caminhar com ele. Quando se percebe Ele nas escrituras, os escritores bíblicos tornam-se apenas peças que me ajudam a encontrar o mestre.


Quando Jesus é o meu único alvo, as teologias abrem espaço para simples certezas, e não para grandes hipóteses e “achismos”.


Quero apenas esse simples Jesus que anda nessa terra, suja os pés e vive comigo no chão da minha existência. Hoje vejo que apenas esse me basta.

Louvado seja Senhor!

Jorge Luiz

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CONSELHOS RÁPIDOS AOS FORMANDOS EM TEOLOGIA

Esse texto cai bem para o momento que eu e alguns amigos meus formandos estamos vivendo


O homem é salvo pela loucura da pregação!

Quando a insanidade divina irrompe na lógica das nossas presunções e a revelação estabelece a verdade nas vísceras do ser, aí a graça foi plantada. Então, não tente explicar a Deus; tente discernir o homem, porque o Evangelho não é mais do que isso: eu sei quem eu sou; você não deve ser diferente de mim. As nossas diferenças são apenas do ponto de vista moral e cultural; mas nós todos temos uma dívida impagável para com Ele e Ele respondeu a isso com um amor inexplicável, de modo que ante esse amor eu agora tenho a coragem de examinar meu coração e você o seu, pra que nós, discirnamos o que, que, esse amor quer fazer pra nos curar e nos levar a alguma coisa que seja mais semelhante com a imagem que projetou para nós.
O verdadeiro teólogo deve ser o mestre de almas humanas e não um recitador de textos, de referências, de filósofos e de outros bobos que já tomaram muito tempo da gente na antiguidade. Se o cristianismo tivesse apenas pregando o Evangelho e não tentando defender Deus –Apologética– mas discernir o homem e aplicar a Palavra da graça aos humanos, podem ter certeza: a história teria sido completamente outra.
A salvação da teologia é se converter em adoração a Deus, em discernimento da Palavra, e a aplicação da Palavra à vida, não como moral comportamental, mas como discernimento psico-ético. Outra desgraça do cristianismo foi a criação dessa teologia moral cristã; foi a coisa mais pagã que já se inventou e o meu amigo Agostinho pisou na bola feio, e Tomás de Aquino se esborrachou. Todos com graves problemas na área da sexualidade. Se você quiser saber o tamanho da doença sexual dos teólogos da igreja cristã, compre um livro chamado “Eunucos por amor ao reino de Deus”, pra ter uma história horrorosa de ver como traumas sexuais produziram teologias horrendas e geraram uma moral cristã adoecedora, neurótica, que patologizou a alma coletiva da igreja até hoje.
A salvação da teologia é, portanto, se converter em adoração a Deus e discernimento da Palavra e aplicação da Palavra à vida, mas não numa moral comportamental, mas num discernimento psico-ético. Por que psico-ético? Por que tem uma dimensão que é psíquica, que tem a ver com a nossa individualidade e com a nossa necessidade de processo de individuação; de nos tornarmos nós mesmos, por que o chamado de Deus na Escritura é para que cada um de nós tenha uma consciência. E não é moral, é ética. Porque moral é o resultado do IBOPE da maioria das conveniências majoritárias. Na moral não existe processo de individuação; existe processo de massificação.

A promessa do apocalipse é que cada um de nós vai receber uma pedrinha branca com um novo nome que ninguém conhece, só aquele que o recebeu.

Essa é a promessa maior de que a redenção culmina num processo de individuação eterno.
Agora, para que isso aconteça, é preciso que não haja moral; é preciso que haja ética – uma coisa não tem nada a ver com a outra.

A moral é essa conjunção de interesses; já a ética vem de “ethos”; vem dessa coisa que é em si – que é um telhado que cobre a vida que factibiliza e propicia à existência; e à vida um modo de ser. É um conforto pra alma.

A ética, portanto, tem a sua aplicabilidade profundamente individual porque não haverá jamais uma ética que faça bem ao outro e faça mal a mim.

A ética, conforme a Escritura, é aquela que faz bem a mim e faz bem ao outro. Porque aquilo que quereis que os homens vos façam; isso, mesmo, fazei a eles.

Quando isso é entendido, existe espaço para o processo de individuação e de aplicação desse conceito do que seja vida e cobertura pra vida tanto pra mim, quanto pro outro.
As pessoas não precisam de doutrinas; elas precisam de entendimento espiritual. O entendimento espiritual só acontece como revelação na graça, e sem ser a partir da graça jamais se terá entendimento espiritual.

Por isso a tarefa de qualquer teologia é gerar entendimento espiritual. O que falta à igreja é entendimento; é compreensão da vida; é discernimento do próprio coração; é graça e misericórdia pra com o próximo; porque Deus, nós não iremos entendê-lo, mas é nosso privilégio conhecê-lo de todo coração.

E que Deus nos abençoe, em nome de Jesus.
Trecho da II Jornada Teológica - Fazendo Teologia Hoje Rev. Caio Fábio D´Araújo Filho Seminário Teológico Episcopal Carismático - SETEC Recife, PE - 08/03/2004.