sexta-feira, 30 de março de 2007

PERCALÇOS DA REVOLUÇÃO

É duro ter um pensamento “revolucionário”. Quando você enxerga as coisas por uma visão diferente da comum, você é sempre alvo de hostilidades, retrucamentos, má interpretação e coisas do tipo.

Mas isso é um preço que se paga por simplesmente não se caber mais naquela visão tradicional das coisas. Achar que o cristianismo é aquele livrinho fechado de verdades e mentiras, leis e ordenanças que são imutáveis.

Somente o ser Deus pra mim é imutável, pois Ele é amor e nunca deixara de ser assim, Ele é fiel, e nunca deixará de ser assim, Ele é justo e nunca deixará de ser assim. Mas aquilo que nós compreendemos de Deus, da sua vontade, dos seus “planos”; isso sim está passível de mudança, e na verdade deve mudar.

Não quero mais trabalhar Deus nas categorias de agradar ou não a Ele. Causa-me arrepios ainda ouvir que “o crente deve ser diferente do mundo”, pois isso sempre traz uma compreensão que para agradar a Deus tenho que vestir roupa tal, usar cabelo tal e por ai segue uma lista interminável de mandamentos.

Quero um Cristo simples, porque Jesus é Simples. Quero uma igreja simples porque ela começou simples. Não agüento mais hierarquias autoritárias na Igreja.

A Alma do “revolucionário” fica cansada, amarga, chateada. É um desgaste que nos envelhece, nos entristece, e nos faz muitas vezes perde as esperanças na mudança. Sei que muita coisa vai mudar, mas será um processo lento. Em se tratando de religião, as mudanças são lentas e parciais, não são plenas. Sabemos por exemplo que muitos padres, mesmo sem poderem falar o que pensam, não concordam mais com a manutenção do celibato obrigatório dos sacerdotes, mas seu líder geral (papa) está num processo de retroceder às antigas práticas que já estavam extintas (como o caso da missa celebrada em latim!).

Isso é um problema da religião, estar preso a dogmas é algo que obscurece a dinâmica da verdade em nossas vidas. Não sou o homem mais sábio do mundo, mas desde o ínicio da minha fé eu descobrir que a Graça, a Revelação e a Verdade são dinâmicas e indissociáveis, não estão presas a formatos, pois é multiforme.

Quero viver com Deus a multiformidade de sua Graça, nem que pra isso eu saia dos formatos da religião, pois eles me apertam e me sufocam.

quarta-feira, 28 de março de 2007

PENSAMENTOS ACERCA DE DEUS, SENDO ELE MAIOR QUE OS MEUS PENSAMENTOS!

O fato Deus operar milagres não pode significar que ele prefira alguns e despreze outros. São os milagres que sustentam este mundo, Deus opera milagres em todos os níveis da vida, apesar de ainda não ter completado sua justiça sobre a Terra. O agir de Deus sob sua criação é um milagre, é este agir de Deus é o equilíbrio que mantém todo o universo existindo. Os milagres não são injustiça de Deus, mas sim uma forma de tornar esse mundo menos inóspito e sinalizar a outra vida onde o milagre não será mais milagre, pois será o comum.

Deus não controla tudo como um relógio, assim como também não se lança em toda aleatoriedade humana causada pelo seu “livre arbítrio”. Deus não é um ditador, mas não está preso ao acaso humano.

Deus quer agir com o homem, mas seu agir independe da vontade do homem. A vontade de Deus é que o homem amadureça com os percalços da vida, mas no caminho do amadurecimento Deus intervém em favor do mesmo, pois como diz Jesus: “- Sem mim nada podeis fazer!”, nada podemos ser sem ele. Deus em sua misericórdia supre aquilo que está acima da nossa vontade.

Deus fez um mundo com várias possibilidades de vida, porém, a palavra nos ensina que o pecado desestruturou esse mundo. Sem o agir de Deus, seja das mais variadas formas possíveis, estamos simplesmente a mercê dessa desestruturação. Deus não é uma verdade que torna minha vida mais amena, mas Ele é quem me faz não cair na total desesperança quanto a minha vida e ao futuro.

O Deus verdadeiro está no equilíbrio entre o que eu digo que Ele é e o que ele não É. Entre o que ele faz e não faz.

ONDE ESTARÁ JESUS NESSE MEIO DISSO TUDO?


Estava conversando com minha noiva acerca de uma amiga que ela foi visitar. Seus pais estão “desviados da Igreja” e ela está sendo “discipulada” por um pastor de uma igreja enquanto freqüenta outra aos domingos. Sua mãe confessou que não sabe qual “verdade” seguir, pois são muitas! Cada um chega com sua verdade, e fica difícil saber qual é a certa.

“ – CREIO EM JESUS, MAS NÃO O CONFESSO EM NENHUMA IGREJA, PREFIRO FICAR EM CASA, FAZENDO MINHAS ORAÇÕES!”

O que temos a dizer para pessoas como essa? O que há de relevante em nosso discurso para ajudar pessoas como essa a alcançar um maior entendimento? Será que ela realmente precisa de um “maior entendimento”?

O Cristianismo pegou a única Verdade e transformou em verdades, ao gosto de freguês. Recordo-me da pergunta de Pilatos: Qual é a Verdade? Jesus tinha dito a ele que aqueles que eram da verdade, permaneciam, viviam, existiam na verdade; somente esses entendiam suas palavras, sua voz familiar de Senhor e Deus das suas vidas.

A ÚNICA VERDADE É JESUS, EXISTIR EM JESUS, VIVER EM JESUS. TUDO QUE FOGE OU ALTERA ISSO É APENAS MENTIRA.

A percepção do que é verdadeiro vem de um encontro tão particular e íntimo com Deus que religião nenhuma abarca ou compreende. Não foram os versados, os conhecedores, os mestres, os “lideres de discipulados”, ou qualquer outra patota dessas que enxergou a verdade, foram apenas aqueles que tiveram um encontro com Jesus. Os que olharam em seus olhos e ouviram sua voz, esses sim tiveram uma percepção de Deus e do que é verdadeiro.

Minha grande pergunta é: Como as pessoas hoje; num mundo que possui tantos Cristos que se torna impossível calcularem, chegarão a olhar nos olhos do verdadeiro e ouvirão sua verdadeira voz no meio de tantas outras vozes?

Se eu não responder essa pergunta será inútil evangelizar, inútil pregar, inútil falar sobre Cristo, porque afinal alguém me ler agora poderá dizer que esse Jesus é apenas o que eu creio ser o verdadeiro.

Num mundo onde se fala tanto do “Jesus que eu creio”, o “Jesus que eu conheço”, como eu posso revelar o Verdadeiro Cristo de forma que as pessoas o enxerguem? De forma que elas queiram segui-lo e de forma que a Igreja não seja um lugar de morte; mas simplesmente uma comunidade daqueles que celebram e caminham na visão da Verdade?

Os que possuem “muitas verdades” não possuem nenhuma, só há uma Verdade, por mais dogmático que possa parecer, e essa verdade não é um mandamento, é uma pessoa.

Não sei como, mas o Espírito de Deus pode me orientar a revelar o Verdadeiro Jesus de forma que muitos discirnam a mentira e se convertam para a Verdade. Que os meus olhos e meu coração percebam o que é verdadeiro no meio de tanta falsificação.

Tenha miséricordia de nossa cegueira Senhor!

Jorge

terça-feira, 20 de março de 2007

DUPLA PERSONALIDADE



Andei pesquisando um pouco sobre a questão da dupla personalidade, encontrei isso na net:

“O disturbio de dupla personalidade é uma fragmentação psíquica devido muitas vezes a um grande trauma, onde o eu (ego) da pessoa fica divido... há probabilidade então de não apenas duas personalidades...mas de várias... dependendo claro de cada caso... Uma personalidade não tem nenhum conhecimento da outra e o que a pessoa pode relatar é que há periodos de esquecimento, de desmaio, onde então sua outra personalidade assume o comando... Ela não pode acreditar ser duas pessoas porque a pessoa não tem nehuma consciência, disso, portanto, o maximo que ela pode perceber é que ela é um tanto estranha e que tem momentos de apagão de memória... não se lembra então de nada que suas supostas "outras" personas fizeram e nem pode então ao ser pressionada revelar... porque? porque ela não tem essas informações a nível de consciência e sim de inconsciente...ela não percebe essa dissociação entre uma e as suas várias facetas. A respeito de se dar conta da realidade... tudo o que ela vive é real...portanto não percebe como mentira ou invenção, pois ha uma fragmentação de ego que a faz crer ser duas ou mais pessoas, sem que uma persona entre em contato com a outra. E por fim... pode sim se passar uma mulher por homem... pois as múltiplas facetas necessariamente não são ligadas ao sexo, mas sim as construções que o psíqucio faz... pode inclusive ter diferentes idades...”

Realmente essa é uma breve sintese do transtorno de personalidade. Muito parecido com uma “possessão” (desculpe a comparação) a pessoa passa a agir de uma forma diferente, uma personalidade completamente oposta a sua normalidade vem à tona, trazendo assim terríveis problemas para o doente.

Pode parecer uma comparação esdrúxula a que vou fazer, mas acredito, nesse meio tempo de caminha, que certa forma de dupla ou múltiplas personalidades afetam os cristãos, isso espiritualmente falando.

Talvez esteja exagerando na comparação, e me desculpem os psicólogos e psiquiatras se em algum momento eu como leigo, misturar as informações e acabar sendo errôneo em minhas afirmativas, mas volto a dizer que estou falando num sentido absolutamente espiritual.

Falo do comportamento altamente contraditório que Paulo fala em Rm 7:19 sobre o mal que faço sem querer e o bem que quero e não faço. Falo dessa contradição de vontades, de desejos a serem satisfeitos.

Paulo fala que deseja o bem, na verdade quando pecamos, antes de percarmos (ou durante o processo se preferir) nós desejamos o errado, e não o bem. Podemos até ficar na duvida, tipo aquela postura: “– Mas isso não ta certo, mão deveria fazer isso!”; só que logo após, sedemos completamente a esse desejo errado e somos tomados pela “outra persona” que faz o que bem entende.

Comparo o processo do transtorno da dupla personalidade muito semelhante ao do pecado humano. Por exemplo:
Segundo o texto, o transtorno provém de um trauma forte que a pessoa sofre, dividindo o seu ego. O pecado foi um trauma na criação e principalmente na constituição humana. Em todos os sentidos ele acarretou uma série de traumas tanto na constituição física, psíquica e espiritual. Sendo assim, a contradição entre a consciência e os desejos inapropriados tomou forma e força. O homem passou a ser um ser divido entre o dever e o querer, entre o certo e o errado. Como disse o Diabo, seriamos conhecedores do bem e do mal, mas ele não avisou que experimentaríamos isso sempre num ambiente de contradição, era o seu papel de vilão mesmo.

Antes de a pessoa ficar “possuída” pela sua “outra persona” ela sofre uma ausência de sentidos, um desmaio, um “apagão”, um esquecimento. Ao voltar, ela retorna com outra consciência, outra personalidade, outras atitudes. O pecado parece fazer assim conosco, ele nos arrebata, ficamos com amnésia quanto à vontade de Deus, esquecemos das conseqüências funestas do pecado, esquecemos que somos filhos da luz e habitamos numa personalidade de trevas. Assim sendo, fazemos tudo o que sabemos que é errado, mas com um desejo maligno de fazer, pois o pecado é maligno. Ele destrói nossa reputação, nossa sanidade, e naquele momento, como possessos, queremos apenas realizar nossos mais indecorosos desejos.

Tudo o que a nossa “boa personalidade” plantou é destruída pelo lado mal, sendo assim, vivemos mais pelas ações e conseqüências dessa malignidade do que mesmo pela outra natureza. Essa malignidade só adormece em nós quando realizamos seu mal intento.

Após isso, vem a nossa “boa personalidade” e meio que tonta ela se pergunta: “– O que foi que eu fiz?” Sei que o doente de dupla personalidade não se lembra de nada que sua outra persona fez, mas como disse estou falando sobre espiritualidade. Nesse sentido, voltamos para nossa “boa personalidade” completamente cientes do estrago que a má fez. “Será que eu nunca vou aprender?” “Por que...?” “Por que...?”. Sabemos do que fizemos, mas não conseguimos impedir. De vez em quando podemos até ter forças, mas isso são raras exceções.

Pedimos perdão, queremos não fazer mais isso, prometemos que não faremos mais o que a “má persona” deseja, mas como que num inevitável processo, ela vem e nos possui de novo. Uma alternância que causa desespero naquele que quer fazer o bem e deseja o mal.

Esse problema da dupla personalidade espiritual não tem cura pela psicologia, é algo que só a recriação resolverá. O novo nascimento me leva a ter mais consciência desse meu problema e buscar viver na Graça de Deus, mas até ele não me curou plenamente desse mal. Somente a plena recriação, no tempo de Deus, me livrará, livrará a todos dessa grave doença espiritual.

Não quero jogar minha responsabilidade para o futuro, ou mesmo me enganar com relação às conseqüências do pecado, apenas busco crer que aos olhos de Deus estamos todos enfermiços dessa terrível doença, mas os mesmo olhos que com amor me compreende também me oferece salvação, restauração e quer me corrigir para que eu venha a ter uma só personalidade: a de Cristo.

“Tem misericórdia de nós Senhor, perdoa nossas más condutas, não nos julgas com severidade, mas com compaixão nos restaura, exorcizando de nós o mal e nos levando pelo caminho do bem, da justiça e do perdão!”


Jorge

segunda-feira, 19 de março de 2007

ESPIRITUALIDADE DESENCARNADA


Um pensamento de Paulo Brabo:


"Essa nossa infantil negação da carne nos torna, entre outras coisas, companhia insuportável para todos ao nosso redor, e ainda para nós mesmos. Vivemos como se a espiritualidade (como se a verdadeira vida!) fosse terreno exclusivo do incorpóreo e do intelectual – da oração, da devocional, da meditação, do discurso, da leitura. Fora raras exceções determinadas por um emocionalismo arbitrário, não conseguimos ver nenhuma espiritualidade num abraço, numa caminhada pela praia, num jogo de cartas, numa escalada, num café, numa churrascada, numa flor, num pedaço de pão, na mão de um amigo, numa dor de dente, nas pessoas que estão com você na casa de praia... Somos constantemente ensinados sobre a importância de morrer e ressuscitar como Jesus, mas – ai de nós – não há quem nos ensine a encarnar."


Nossa herança cristã, infelizmente, não seria tanto a herança de Jesus, que vivia uma espiritualidade que não negava o corpo, os sentidos, a carne. Nossa espiritualidade hoje se parece mais com a dos opositores da mensagem cristã, que negavam o corpo como fonte de bênçãos e de vida. Toda nossa espiritualidade é realmente fantasmagórica, pessoas que apenas olham para o céu, só pensam no céu.

Isso me faz lembrar a fala dos anjos em Atos 1:11 que perguntam para os que viram a ascensão de Cristo o porque deles permanecerem com os olhos nos céus? Não há necessidade! Vivam suas vidas na terra! A promessa da volta de Jesus, da redenção do corpo e da vida eterna é tão certa quanto as promessas de Deus, então, viva a espiritualidade na terra, no corpo, na vivência, na relação, nas limitações e na Graça.

Pelo menos entendo isso nas entrelinhas dessa pergunta angelical. Mas muitos de nós não entendemos, e ai, não precisa nem citar os males da espiritualidade que só olha pra cima, apenas sabemos que está fadada a tropeçar no chão dessa desprezada existência.

COMO REAGIMOS A DEUS

Acabei de ler um texto no blog do Pr. Elienai Jr. e a vontade que deu foi de colar ele todinho aqui no meu blog, rsrrsrs. Mas não vou fazer isso, porém quero incentivar a todos que aqui entrarem dar uma passadinha no blog: www.elienaijr.wordpress.com. Gostaria de transcrever aqui um dos trechos que me impactaram. O titulo do texto é "As coisas da Graça e a Graça das coisas".

Leiamos:

"Estávamos em um acampamento e eu pedi a uma psicóloga de nossa igreja que conduzisse uma dinâmica. A intenção era transmitir a importância de andarmos juntos, da ajuda mútua. A dinâmica que ela escolheu foi ótima, o desfecho é que foi pitoresco. Chamou um casal da igreja, as mãos de cada um foram amarradas para trás, colocou-os de frente para uma mesa, com um prato contendo um bom-bom de chocolate embalado. Deu a ordem: comam o bom-bom. A idéia era óbvia, todos já estavam entendendo, menos o rapaz. Deveriam, apenas com a boca, um ajudando o outro, abrir a embalagem e comer o bom-bom. A lição era também óbvia: precisamos uns dos outros para viver bem. Seria lindo não fosse a fome do rapaz, que para mostrar sua força, avançou com a boca no bombom e, sob o olhar assustado de todos da igreja, de sua mulher envergonhada e da psicóloga desalentada, destroçou a embalagem junto com o chocolate, cuspindo em seguida os pedaços de plástico lambuzados.

Fazemos assim com as coisas da vida e os sinais de Deus, ao invés de percebermos o que significam, devoramos sem olhar para o que realmente significam: afeto e cuidado. Somos irreverentes. Gulosos devoradores de coisas. Admiradores de coisas. Apáticos ante a linda sedução de Deus. Devoramos sermões e o carisma de seus pregadores. Acumulamos na vida cultos e o delírio de suas inovações. Consumimos igrejas e as fantasias de uma vida sem decepções. Empanturramo-nos de “bênçãos” e sua propaganda enganosa de uma vida fácil porque cristã. Colecionamos livros e suas promessas de como ser o que nunca seremos" (destaque meu).

Quanto mais caminho nessa estrada, maiores são as constatações de palavras como essa. O que caberá a nós? Apenas ter conhecimento dessas coisas e de braços cruzados permanecer? Procurar viver dentro deste ambiente achando que isso nao nos contamina particularmente? São perguntas que me cobram posicionamento e resposta. e talvez não só a mim, mas a todos que de alguma forma possuem a mesma percepção.

Senhor, guia não apenas o nosso entendimento, mas nos levar a tomar posição, por mais radical que seja.

sábado, 17 de março de 2007

A SEDUÇÃO DA ORTODOXIA

Obs: Um lúcido e excelente texto de Paulo Brabo, pena que para muitos cristãos isso que ele fala é um tremendo blá-blá-blá que nao serve pra nada, os crentes estão cegos, e infelizmente não é pela vontade de Deus, mas pela vontade do "deus deste século".

de Paulo Brabo

A primeira e mais persistente imperfeição a tentar roubar o brilho da originalidade de Jesus como apresentado nos evangelhos foi o gnosticismo. Decalcado sem sutileza da visão de mundo das religiões de mistério, o gnosticismo crê, essencialmente, que a salvação está condicionada ao acesso a um conhecimento secreto – a gnose – através do qual o iniciado nos mistérios da religião pode conectar-se à divindade e beneficiar-se dela.

Alguns crêem que o Apóstolo escreveu a maior parte de suas cartas para combater o alastramento da mancha gnóstica no seio virgem da igreja primitiva; outros juram de pé junto que Paulo não estava ele mesmo imune à sua influência, e que muitas de suas passagens e argumentos promovem ou pressupõem a visão de mundo gnóstica.


Certo é que nenhum outro conceito tem permeado tão unanimemente e por tanto tempo a mentalidade cristã de todas as tendências e estirpes do que a confiança tipicamente gnóstica na supremacia ou na necessidade de um conhecimento secreto – isto é, específico – como condição para a salvação. Com o tempo, naturalmente, o gnosticismo foi demonizado com este nome; entre os cristãos o conhecimento secreto passou a ser chamado e idolatrado como crença correta – ou ortodoxia, que é como se diz em grego.


Só a ortodoxia salva.

A relação dos cristãos com a ortodoxia é primordialmente idolátrica. Se pressionados, cristãos de todos os matizes acabarão concordando que não é uma religião particular que beneficia o adorador, mas algum aspecto da bondade divina expresso na vida, morte e/ou ressurreição de Jesus. Na prática, no entanto, todos tentarão convencê-lo de que para beneficiar-se desse privilégio gratuito é necessário abraçar determinado conjunto muito específico de noções a respeito de Deus, da vida e da salvação. A esse conjunto de “crenças corretas”, que nenhuma facção cristã tem em comum com a outra, é que se dá o nome fortuito de ortodoxia.

A paixão com que os cristãos defendem seus pontos de vista uns contra os outros reflete com precisão a extensão de sua ortodoxolatria. Jesus é muito bonzinho e tal – mas só a ortodoxia salva, e ninguém vem a Jesus se não for por ela.


Ortodoxolatria – ou gnosticismo cristão – é a crença praticamente universal (entre os cristãos) de que para beneficiar-se do favor de Jesus é preciso sancionar uma série racional e
muito específica de assertivas a respeito de como Deus funciona. Ser cristão não é, segundo essa visão, uma postura pessoal de confiança no cacife de Jesus; não é questão de posicionamento moral, psicológico ou espiritual. Para os partidários da nova gnose ser cristão é assunto da cabeça e da razão; depende da consistência do nosso discernimento intelectual, demonstrada pela filiação ao rol apropriado de afirmações teológicas – em detrimento, naturalmente, de todas as outras.

É por sermos todos ortodoxólatras que entre a leitura deste parágrafo e do anterior uma igreja em algum lugar se dividiu e se criaram duas – cada uma acenando com sua própria versão da gnose, o conhecimento apropriado que tem poder para salvar. Gente que sentava-se no mesmo banco para cultuar estará a partir deste momento separada pelo abismo de sua fé inabalável na necessidade da crença correta. Terão discordado irreparavelmente sobre algum ponto crucial da sã doutrina: se mulher tem direito a pregar, se Jesus visitou o inferno, se milagres acontecem, se o arrebatamento vem antes ou depois do milênio, se o Espírito é derramado em uma ou duas prestações, se Jesus ressuscitou, se um homem pode dormir abraçado a outro; se cristão pode se divorciar, abortar, assistir televisão, cortar o cabelo, tomar cerveja, ouvir Raul Seixas, ler ficção científica, usar camisinha, suicidar; se é certo usar crucifixo, votar em comunista, acender uma vela, comprar a prestação, pagar o dízimo, fazer o sinal da cruz, chorar aos pés de uma estátua, jogar na loteria, batizar criança, fazer sexo antes, durante e depois do casamento. As combinações são incontáveis, e cada facção proporá sua versão particular da gnose. Uma única coisa todos os grupos apresentarão em comum: a fé subjacente e implacável na ortodoxia, o paradigma que pressupõe a supremacia e a necessidade de uma única posição doutrinária/teológica/ideológica formal e a conseqüente demonização das outras. Como dizia Borges, interessa-lhes menos Deus do que refutar os que o negam na sua versão.


Essa confiança nos benefícios inerentes de uma apreensão intelectual adequada dos mecanismos de Deus não poderia estar mais distante da postura de Jesus, para quem apenas comparações podem produzir um vislumbre da natureza do Reino e – mais importante – todos os homens podem beneficiar-se da postura cavalheiresca de Deus, independentemente do acesso a qualquer conhecimento secreto ou específico. A inescapável graça de Deus, segundo Jesus, está pronta a agir em favor não apenas dos pecadores – o que deveria parecer por si mesmo admirável – mas também dos incompetentes, dos deficientes, dos tolos, dos insensatos, dos imaturos. A verdade foi escondida, garante Jesus, dos doutos e estudados e revelada aos mais parvos dos discípulos. Para entrar no Reino é necessário que nos tornemos “como crianças” – condição que não denota, ao contrário do que se pensa, um atestado de inocência, mas de incompetência. Para beneficiar-se do Reino é preciso ser incapaz. Requer-se não ter noção do que está acontecendo e não ter noção de como parar o processo aparentemente irreversível do qual fazemos parte. É preciso ser capaz de baixar a bola e delegar o controle e a compreensão do que está acontecendo a outro. É preciso ter uma vaga idéia, não certeza. Fé,
não crenças. Confiança na suficiência do cavalheirismo de Deus, não no mérito arbitrário da ortodoxia.

quinta-feira, 15 de março de 2007

INQUIETO

Alguns que me conhecem notam que ando inquieto, para outros simplesmente desabafei, me abri, pois em mim parece haver um furação que destrói tudo impiedosamente. Ando sim inquieto, posso dizer que de certa forma estou com um estado de espírito depressivo. Sinto-me perdido.

Estou perdido por vários motivos, por mais que eu não queira, me pego chorando, mesmo que por dentro, por simplesmente temer o meu futuro e muitas vezes senti-lo estar fora do meu alcance.

Sei que tudo isso é muito subjetivo e quem estiver lendo não entenda nada, mas eu mesmo não me entendo interiormente. Só sei que sinto medo.

Talvez um dos maiores motivos pelo medo do futuro é perceber que ele está vindo sobre mim de uma maneira muito rápida. Meus dias passam numa velocidade tamanha que sinto medo do futuro que me bate as portas e que provavelmente me pegará desprevinido.

Oportunidades eu perdi, e assumo que perdi, outras oportunidades passaram tão rapidamente por mim que talvez não cheguei a percebe-las; os desencontros da vida foram fatais em vários momentos. Hoje me sinto cobrado, essas oportunidades perdidas se vingam de nós através da fala ou do olhar de quem nos cerca.

Este mundo nos cobra de forma tão massacrante que é impossível pra eu não dizer que estou inquieto, tenso, perturbado, e até mesmo doente da alma. E para os que agora disserem: “... esse Jorge é um exagerado!”, saibam que a minha dor é só minha e quem não entende a dor existencial apenas sabe zombar dos que a sentem.

Nessa altura do campeonato, além de todas as crises: projetos de vida sendo destruídos, esperanças frustradas, a paulatina perda da paciência e da perseverança em ter esperança novamente, as exigências das responsabilidades por mim assumidas; ainda estou convivendo com um momento de crise de fé.

“– Crise de fé! Mas como!? O crente não tem crise de fé!”

Mas sem mais delongas, realmente estou em crise de fé. Crise de fé porque vejo que segui durante muitos anos um deus que não existe, uma ilusão da religião, um ser que se parece com Deus, que tem alguns “atributos” daquele que é Verdadeiro, mas que não passa de uma tremenda miragem no meu deserto existencial.

Segui-o por tantos anos no meu deserto, que agora me sinto morrendo por “cansaço” e “desidratação”. Corri em busca de uma miragem que está cada vez mais distante do meu campo de visão. O deus que me mostraram é uma miragem!

Primeiramente me mostraram um deus que exigia de mim rezas e sacrifícios intermináveis. Foi o deus da minha infância, um deus que era tão difícil de ser agradado, que exigia de mim tanta penitencia, que não conseguia pensar nele sem antes me sentir ardendo no Inferno. Esse deus apenas me mostrava a porta da “danação eterna”, ele me fazia sentir um perdido, não mostrava ter esperança nenhuma em mim.

Com o tempo, descobri um outro deus, esse outro deus, chamado por alguns de “O deus dos evangélicos”, não é tão diferente do primeiro deus que me mostraram no catolicismo. Porém, esse deus me iludiu, me fez acreditar em coisas que não existem, em “ações sobrenaturais” mentirosas, pois não existem, e assim me prendeu.

Esse deus me trouxe um pouco de alegria, mas com ela vieram às exigências, vieram às politicagens dos seus “sacerdotes ungidos”, vieram às santidades inalcançáveis, vieram os ensinos de que deveria eu perseverar numa luta em que sempre saio em desvantagem: a luta contra mim mesmo. Esse deus me mostrou o céu que eu não via, mas também estreitou tanto a porta de acesso a ele, mais tanto, que se tornou impossível para qualquer humano passar por ela. De tal forma, além de mostrar um céu lindo mais inalcançável, fez com que o Inferno, antes um lugar futuro, tornasse-se agora bem presente e atual sobre mim.

Esse deus me falou de Graça, mas não me fez entender o que era ela. Na verdade, salvação, para esse outro deus era tão meritória quanto a dou “deus católico romano”. Simplesmente essa miragem no deserto me fez andar muito, e agora estou caído, no deserto da minha existência, desfalecido, com sede, fome e desesperança.

Esse é minha crise de fé. Não deixei de acreditar em Deus, mas estou como a tatear em Sua procura, pois meus olhos enxergaram falsos deuses. Agora não consigo encontrá-Lo, aquele que é Verdadeiro.

Eu entrego minha vida ao Verdadeiro, não quero mais pertencer aos falsos, quero Ele, o único, mas estou caído, e não sei como encontrá-lo.

Mas acredito que de alguma forma ele já me achou, ele sabe onde estou, num lugar que talvez nem eu mesmo saiba que estou, mas Ele sabe. Talvez Ele seja aquela presença invisível que me auxília mesmo sabendo que estava cego por miragens.

A esse Deus, que meus olhos não vêem, que meus sentidos não alcançam, eu suplico: Estou cansado, esmagado, aflito, desnorteado. Corri atrás de miragens, enganado pelo meu coração, enganado pelas circunstâncias e pelos inimigos que delas se aproveitam. Enganado, sujo, cansado e triste, eu falo na fé de que tu me escutas. Quero ser encontrado por Ti e te encontrar! Quero te encontrar porque tu és a minha necessidade, quem realmente preenche.

Tu és Verdade! És maior que as doutrinas dos “deuses cristãos” porque tuas palavras não são doutrinas, mas são vida, mesmo que pra mim essa verdade ainda não seja experimentável.

Ao longo desses 25 anos de vida, o meu maior problema não são as oportunidades perdidas, o mundo que me esmaga e o “futuro” que me exige resposta, aos meus olhos carnais são sim. Mas por trás desses problemas está o maior problema; que é não correr atrás de miragens, mas correr para os braços do Verdadeiro, ser encontrado Dele, e Ele de mim. Isso é razão da vida, e é nessa razão que eu desejo viver o resto dos meus anos.

Essa oração, esse desabafo, eu faço para o Verdadeiro, e não para as miragens, quanto a elas, meu dever agora é simplesmente dar as costas e caminhar. Para onde? Não sei, peço ao Espírito que me leve. Somente esse Espírito, o Verdadeiro Espírito, pode me levantar do deserto que me vejo, me mostrar à saída, caminhar comigo, restaurar minha alma, e dar novo sentido de vida. Quero apenas com ele caminhar, os projetos, vão se fazendo no Caminho.


Seja ao Verdadeiro e Gracioso toda a glória!

segunda-feira, 12 de março de 2007

TEXTO, PALAVRA OU ESQUIZOFRENIA DE JESUS?

Esse texto do Pr. Caio fala acerca da importância de interpretarmos a Biblia segundo a revelação de Deus, o Verbo, que é Jesus. Essa tem sido uma das minhas peregrinações espirituais da minha vida: Entender as palavras de Jesus de acordo com sua vida.

Jesus não sofria da esquizofrenia natural que nos atingem, pela qual a nossa fala não combina com as nossas ações. Ele nao sofria de "dupla personalidade", portanto, é vital relermos suas palavras de acordo com a sua vida, com o seu exemplo.

Uma dura missão, porém recompensadora.

Vai aí o texto:


Texto, Palavra ou a Esquizofrenia de Jesus?


Nós lemos Mateus 5: 31 e 32 e pensamos nele com nossas categorias ocidentais, posteriores à predominância política do Cristianismo sobre este lado do planeta, impondo não uma nova consciência, mas apenas uma nova Moral.

Todavia, quase nunca levamos em consideração o contexto no qual Jesus disse esta palavra. Naqueles dias, embora a poligamia e a bigamia — tão constantes no Antigo Testamento — ainda existissem, desde o exílio em Babilônia que ela vinha diminuindo — por questões econômicas, como é obvio! Todavia, ainda que ambas não fossem a norma para a maioria, na prática, no entanto, era ainda uma consciência prevalecente.

Prova disso é que em João 8, no episódio da mulher adultera e Jesus, não se apresenta o "homem" com quem essa "adultera", adulterara. "Ele", o homem, estava isento das pedradas. Mas a mulher estava lá, seminua ou nua, exposta a todos.

Portanto, quando Jesus diz que a Lei dizia que um homem poderia descartar a sua mulher dando-lhe uma carta de divórcio, Ele falava isto a uma assembléia machista, que praticava isto com muita alegria e facilidade. Tudo era motivo para se divorciar. Literalmente, por qualquer motivo, como vemos em Joaquim Jeremias e outros especialistas (Mt 19:3).

Isto para não falarmos na briga doutrinária que havia, nos dias de Jesus, entre as escolas de Shamai e Hillel em relação ao tema em questão. Era o reino da banalidade relacional.

Nesse caso, o que Jesus diz, levando-se em consideração o "contexto histórico", é basicamente o seguinte:

1) Se, para vocês, a mulher é adúltera quando trai o seu marido, dando-se fisicamente a um homem, todavia, vocês, os homens, cometem muito mais adultério pelo modo "natural" como olham e desejam mulheres (MT 5: 28);
2) Neste mundo onde o homem "descarta" a mulher — ela sem direitos a mesadas e a patrimônio, estigmatizada pela Moral vigente e, praticamente, entregue a sobreviver como pudesse — a única clausula, de permissão ao divórcio era se a esposa traí-se o marido; ou seja: "... em caso de adultério" (5: 32b). Nessa caso, o homem poderia dar a ela carta de repúdio e divórcio. Naqueles dias, mulheres não se divorciavam dos homens. Era a Lei.
3) A razão, portanto, tinha a ver com o estigma que a "repudiada", a divorciada, carregaria, naquela sociedade, daí para frente. Ao homem era permitido — por qualquer motivo — desamparar a esposa, repudiando-a, e, então, depois disto, era-lhe "lícito" escolher outra mulher e seguir adiante com sua vida. Não era sempre bigamia, mas era sempre uma monogamia sucessiva. Ela era extremamente praticada até que Shamai, um rabino, se levantou contra aquela injustiça, discutindo os "motivos justos para dar uma carta de divórcio", que, à semelhança de Jesus, para ele, também era o adultério.

Todavia, a preocupação era com o estado de desamparo no qual ficava a mulher repudiada-divorciada, pois, para todos, ela passava a ser fadada a nunca mais amar ninguém e nem ter ninguém, apenas porque alguém não a quis mais, por qualquer motivo.

Esta é a razão pela qual Jesus—após denunciar o adultério subjetivo de todos os homens — diz que a preocupação era com expor a mulher a tornar-se adultera (Mt 5: 32c), e, também com "aquele" que, porventura, à ela se ajuntasse, pois, ele também, passaria a ser visto como o marido da repudiada.

Numa sociedade onde o homem tinha todos os privilégios, incluindo o de ter uma segunda esposa caso a pudesse sustentar, descartar a esposa e entrega-lá ao mundo com uma letra R, de Repudiada, escrita na testa, e, ainda, esperar que ela vivesse de vento, expunha-a a tornar-se adultera — fosse pela necessidade de ser sustentada por alguém, fosse pela realidade de ter encontrado alguém. Assim, em Mt 5: 27-28, Ele iguala a todos no nível do adultério subjetivo. Já em Mt 5: 31-32, Ele nos mostra como uma vítima da dureza de coração de um homem — que descarta e não cuida da vida humana que ao seu lado esteve — pode, numa sociedade regida pela Teologia dos Fariseus, ser ainda mais des-graçada.

O "repudio" do homem tornava a mulher, no mínimo, uma "repudiada" e, no caso dela prosseguir com a vida — sem ter que se entregar à mendicância —, a exporia a ser vista, para sempre, como adultera. Dessa forma, Jesus afirma duas coisas: primeira, a seriedade do vinculo entre dois seres humanos numa relação de casamento; e, a segunda, a possibilidade de que a alma humana pudesse se endurecer tanto, que usasse a do outro, e depois, simplesmente a descarta-se, sem cuidado e sem proteção. Em outras palavras: Jesus não entrou na questão da Lei — até Moisés teve mais de uma esposa —, mas na questão da misericórdia, e, sobretudo, no tema da descriminarão Moral do infeliz; e, também no tema da Teologia dos Fariseus e a sua dureza predatória — suas Leis de causa e efeito da infelicidade —, que, naquele caso, era uma Lei animal, que tratava a companheira como lixo.

E por que digo isto?

Por duas razões:

1) Porque é o que vejo no trato de Jesus com as mulheres de todos os tipos de vida durante os Evangelhos. Quase todas elas vinham de vidas infelizes, mas todas foram absolutamente acolhidas, a Samaritana, inclusive, com seu "companheiro", acerca de quem Jesus disse: "...chama teu marido e vem cá..."

2) Minha leitura da Bíblia, toda ela, está irremediavelmente ligada à única chave hermenêutica que eu creio que é absoluta: "O Verbo se fez carne"—essa é a chave hermenêutica! Logo é no Verbo Encarnado, Jesus, onde vemos o Verbo virar Vida, em todos os sentidos.

3) Ora, isto nos leva não a ler o que Jesus disse e, para melhor entender o texto, fazermos uma exegese da passagem. Ao contrário: isto nos leva a ler e ouvir o que Jesus disse, e, ver, nos evangelhos, como Ele encarnou aquele Verbo.

4) Ora, quando fazemos isto, não temos mais o Evangelho que Jesus falou e nós "interpretamos" como bem desejamos; e o Evangelho que Jesus viveu, que nós usamos para nos inspirar na fé na fé. E esquecemos que são naqueles encontros com a vida que cada um de Seus ensinos — literalmente, cada um deles —, teve sua verdadeira interpretação.

Jesus nunca ensinou aquilo que Ele não encarnou, como manifestação da Graça!

A tentativa de fazer exegese das falas de Jesus, e não levar em consideração como Ele tratou as pessoas pelo caminho, é audaciosa, pois, coloca-nos como "os interpretes da Lei": com a Chave da ciência debaixo do braço, pondo-nos numa posição na qual Jesus pode ser esquizofrenizado pelas nossas doutrinas e Teologias; ou seja: ensinando uma coisa—geralmente legalista em seus conteúdos—, conforme nós "interpretamos" as falas de Jesus; enquanto, também evangelizamos, falando do modo misericordioso como Jesus tratou com amor os pecadores.

O problema é que, na maioria das vezes, o Jesus que encontra pessoas pelo caminho—gente de todo tipo—, não combina com as "interpretações" que fazemos de Suas Palavras.

Quem é que está com problemas? Seria Jesus um "esquizofrênico"?

Seria Ele como os fariseus, que diziam e não faziam?

Ou como os "interpretes da Lei", que punham fardos pesados sobre os homens que eles nem com o dedo queriam tocar?

Ou nós é que continuamos sofrendo da doença deles?

Responda-me: Crendo que Jesus é o Verbo encarnado, como você interpreta o que Ele disse?

À luz dos ensinos de nossos interpretes da Lei? Ou, quem sabe, para o seu próprio bem, conforme o Verbo Encarnado em Jesus!

Jesus é a Palavra sendo interpretada aos nossos olhos!

Afinal, o Verbo se fez carne e habitou entre nós... e vimos a Sua Glória...!

Caio Fábio

quinta-feira, 8 de março de 2007

A VAIDADE DA PERMANÊNCIA

Certa vez estava conversando com um pastor amigo meu sobre aquilo que arde nos corações daqueles chamados depreciativamente de "críticos da igreja". Falava da percepção que em muitas pessoas já evidente, sobre o franco declínio das instituições evangélicas.

No meio da conversa ele soltou uma máxima que deixa triste qualquer um que ainda tenha esperança em tempos melhores: - “Bem, tenho certeza do que creio, não abrirei mão da minha fé, permanecerei nela até o fim!”. Aos que lêem isso podem achar que isso é um exemplo de perseverança. Porém não vejo assim.

Pessoas que afirmam isso apenas querem dizer que não abriram mão dos seus dogmas, das suas verdades absolutas, e que continuaram vendo o mundo com “viseiras de cavalo”. Pessoas assim acham que se questionarem; um pouco que seja, daquilo que eles aprenderam como verdade; estarão se desviando da fé em Cristo e assim serão destinados ao inferno.

Elas se orgulham; se envaidecem, por poderem afirmar que estão na verdade. Aqui já está um grande erro: verdade que gera vaidade, sentimento de superioridade e auto-suficiência já não pode ser a Verdade.

A Verdade, ou o Verdadeiro, é humilde e ao mesmo tempo um revolucionário. Ele ousou pensar sua religião de uma forma diferente; ousou quebrar dogmas; ousou reconstruir a visão judaica do messias. Ele ousou não permanecer preso às vaidades dogmáticas que não expressam a Verdade.

É nesse sentido que Jesus afirma: “Errais, não conhecendo as escrituras, e nem o poder de Deus”. Todo aquele que não entende que as Escrituras são dinamizadas pelo poder de Deus através do Espírito Santo, apenas se fecha em seus dogmas e pré-conceitos.

As Escrituras não são um dogma, mas um canal pelo qual a Verdade se revela. Como canal, ela deve ser lida de forma dinâmica, renovável, e sempre nos levando à novas descobertas. A Bíblia está a serviço da igreja, ela surgiu pela necessidade do povo de Deus, sem assim, ela deve se adaptar aos tempos e suas contingências.

Tenho a impressão de que aqueles que se fecham em suas verdades; em defesa da “sã doutrina” (entenda-se como “são dogma”!) podem ser comparados aos fariseus e saduceus, que começaram bem, mas terminaram mal, por simplesmente perderem a capacidade de perceber o agir de Deus fora das suas verdades. Seus conceitos entupiram seus sentidos e eles não conseguem enxergar nada que não se encaixe a eles.

Jesus fala em João 8:43 que os fariseus não compreendiam sua linguagem que era clara, pois era a verdade, e eles estavam presos na mentira. Até que ponto isso se cumpre hoje? Hoje as palavras de Jesus estão difíceis de entender, por quê? Serão mesmo as palavras de Jesus?

“Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, já dizia o Raul. Os metamórficos são mais sensíveis para perceber a multiforme graça de Deus que se revela de forma livre em nosso meio. Essa revelação não está presa a dogmas, a conceitos ou até mesmo a Bíblia.


Aos ouvidos dos sensíveis de coração!


Jorge

sexta-feira, 2 de março de 2007

PARA QUE INSISTIR NA FRAGILIDADE DE DEUS? - Ricardo Gondim.

Eis um texto do Pr. Ricardo Gondim acerca da Teologia Relacional. Fica para meditarmos:

Para que insistir na fragilidade de Deus?Ricardo Gondim.

O suicídio é o nó mais apertado de desatar da filosofia e da teologia.

Imaginemos um debate sobre os limites da liberdade humana em um auditório lotado. De um lado os deterministas insistem que a cultura, a genética e as forças econômicas não deixam ninguém ser livre. À esquerda, os existencialistas balançam a cabeça repetindo chavões sartreanos e dizendo que não existe essência humana. No centro, os teólogos agostinianos, dedo em riste, negam o livre arbítrio. No fundo, alguns niilistas gritam que humanidade só pode ser construída com mulheres e homens donos de seu destino. Aí, no meio desse bate-boca, um suicida se levanta, põe o cano de um revólver na boca e puxa o gatilho. Naquele instante em que o maluco escolhesse acabar com a própria vida, alguns debatedores, perplexos, apenas se olhariam sem saber o que dizer.

De olhos esbugalhados, deixariam algumas perguntas sem resposta. O acontecido foi “escrito e determinado” por Deus quando o sujeito ainda era tecido no ventre de sua mãe? Deus teria predestinado aquela morte na eternidade passada? Havia outra mão cobrindo a que executou o gesto, ajudando ou, pior, empurrando o suicida para o abismo final? Quais forças sociais, genéticas ou instintivas o levaram ao tresloucado ato? Camus estava certo. O suicídio é o nó górdio da teologia e da filosofia. Ele é o mais radical e mais completo exemplo do livre arbítrio, da não interferência divina nas escolhas individuais e, repetindo Sartre, de “estarmos condenados à liberdade”.

Se para Aristóteles, mulheres e homens se diferenciam dos animais por serem racionais, se para Descartes os humanos são mais excelentes por terem sentimentos, foi Rousseau quem fez da liberdade o componente determinante da humanidade que, na expressão que ele gostava de usar, também pode ser chamado de “perfectibilidade”.

Isso mesmo. Somos livres porque dispomos dessa capacidade de nos aperfeiçoar, ou nos destruir, ao longo da vida. Somente os humanos conseguem se libertar dos instintos naturais para construírem a história como um projeto em aberto. Um cachorro que carinhosamente lambe a mão do seu dono não age por virtude, aquele gesto acontece sem que ele tenha qualquer noção de que poderia “preferir” mordê-lo. Contudo, quando um torturador arranca as unhas de um preso ou quando um marido espanca sua companheira, ele poderia, sim, "preferir" o contrário. Caso tivesse sido programado para agir, o crime seria inimputável, da mesma forma que um pit-bull que destroça uma criança não pode ser levado a um tribunal. Liberdade significa agir sem ser empurrado, coagido, manipulado; uma ação só possui virtude ou perversidade se, na hora da escolha, também houver a possibilidade de se optar pelo seu oposto. Teologicamente é possível afirmar que liberdade foi a maior dádiva que os humanos receberam de Deus. Com a liberdade, vem embutida a noção de que os humanos agem com virtude ou com vício. Existem fatos, eventos, designios, que não são coercitivos ou irresistíveis. E mais, Deus só escolheu criar o mundo assim porque o propósito último da criação é o amor. Deus não criou por qualquer carência, ele não optou rodear-se de pessoas que pensam, criam, sentem e decidem porque obedecesse a alguém ou a alguma lei, ele criou na mais formidável de todas as gratuidades. Ao criar seres com o objetivo relacional, Deus se expôs ao que jamais experimentaria caso nunca tivesse criado: dor e frustração. A liberdade humana é o limite (também o preço) que Deus se auto-impôs para concretizar seu amor nas mulheres e nos homens.

Esta fragilidade do amor divino pode ser bem compreendida tanto na história do profeta Oséias como na Parábola do Filho Pródigo. Nos dois exemplos, os amantes se vêem numa situação embaraçosa pelas opções tanto da mulher como do filho. Na parábola, o filho mais novo partiu e o pai nada pôde fazer a não ser esperar. Já o profeta foi obrigado a engolir seco a desdita de ter se casado com uma mulher leviana, que se prostituia com qualquer um. Mas como ele a amava, só lhe restava perdoar, esperando que a decisão de voltar fosse dela.

A liberdade humana também pode ser bem entendida se compararmos Deus a um imperador. Suponhamos que esse rei possuísse um harém com muitas mulheres, podendo dispor de qualquer uma. Contudo, imaginemos que um dia ele se apaixone por uma Sulamita.

Caso desejasse, bastaria uma ordem para ela ser trazida como objeto de prazer sexual. Mas esse monarca não deseja que seja assim, pois quer amá-la de verdade. Ele precisa conquistar seu coração para também ser dela. Assim, ao buscar amar, por mais poderoso e majestoso que seja, sua paixão o deixa vulnerável e indefeso. Deus quer cativar seus filhos para querer bem e ser deles, eis a razão porque ele jamais forçaria que alguém o escolhesse – forçar e amar não combinam.

Para que dizer que Deus é frágil? Simplesmente porque ao insistir na fragilidade divina, entende-se melhor o seu amor; aprende-se a abrir mão da onipotência idólatra, para abraçar o Pai de Jesus Cristo. Falar da fragilidade divina significa buscar entender a força mais maravilhosa do universo que é o Agápe.

Não consigo acreditar numa divindade que tudo ordena, que tudo dispõe e que tudo orquestra. Realmente, eu não saberia amar um Deus que planejou, determinou e ajudou meu amigo Gustavo a se suicidar. Eu não conseguiria amar um Deus que, para promover sua própria glória, intencionou coisas horrendas como Aushwitz, Ruanda e Iraque. Não, Deus não guia a bala perdida que mata crianças nas favelas. Não creio que ele tenha uma "vontade permissiva" que deixa que horrores se alastrarem para subrepiticiamente cumprir uma "vontade soberna". Não o percebo com começo, meio e fim da história prontos; ou que no presente esteja contente em administrar cada nano evento preordenado em sua providência.

Por isso, prefiro crer na fragilidade de um Deus que é amor. Prefiro aceitar que o mal não fez parte de seu projeto inicial e que Deus sofreu, e ainda sofre, com a morte de inocentes, com a injustiça econômica global e com as guerras mais estúpidas. Não acho certo que confundam Jesus de Nazaré com o deus frio e distante dos gregos e dos deterministas, eis porque escrevo sobre sua fragilidade.

Soli Deo Gloria.

quinta-feira, 1 de março de 2007

MAQUIAVELISMO E IGREJA – CONCLUSÕES PESSOAIS SOBRE A PALESTRA DO PR. ELIENAI JR.

Recentemente tivemos um seminário importante na Betesda sobre a influência do poder segundo o maquiavelismo em nossas instituições evangélicas. Quero aqui parabenizar o Pr. Elienai Jr. pela brilhante exposição.

O poder, na visão do livro “O Príncipe”, de Maquiavel, seria o exercício de suprimir a liberdade do outro em benefício da manutenção de nossa vontade dobre ela, ou seja: dominar os demais para que sigam nossas determinações como líderes. Sendo assim, os pilares do poder em Maquiavel estão na arte de conquistar, consolidar (perpetuar) e expandir o domínio (qualquer semelhança com as formas de evangelismo-proselitismo praticadas através dos tempos pela instituição não é mera coincidência).

O poder segundo Maquiavel seria apenas a radiografia “nua e crua” de nossa condição de pecado. “A chance de não exercer poder seria a mesma de não pecar!” colocou o Pr. Elienai Jr., Gerando um misto de revolta e desespero em nós. Parece que estamos fadados a tornas nossas relações em disputas de exercício de poder. Nessas disputas estão o nascedouro da Institucionalização dos “do Caminho”.

Sendo assim, precisamos primeiro entender umas coisas: A igreja não começou a praticar o poder a partir da obra de Maquiavel. Ela já maquiavélica desde seu nascimento! Jesus já lutava contra esse Maquiavelismo no seio de seu grupo apostólico. Vem-me a memória agora aquele texto em que Salomé pede para que seus dois filhos tenham assento especial junto a Cristo no Reino Messiânico (Mt 20:20). A noção de reino e de “assento” na cabeça de Salomé e dos apóstolos está completamente ligada ao exercício de poder sobre os “menores”. Então Jesus precisa afirmar:

Então Jesus chamou todos para perto de si e disse: - Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles, e os poderosos mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de vocês. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. (Mt 20:25-28)

Todo domínio, “cobertura espiritual” ou pretensão de hierarquizar as relações que entres os discípulos deveriam ser unicamente horizontais, guarda em si o veneno do poder descrito por Maquiavel e que habita latente em nossa natureza pecaminosa. Essa postura que está nos primórdios do movimento cristão não pode e nem deve ser romantizada ou espiritualizada. Deve sim ser encarada e renunciada com maturidade.

Interessante que ao falarmos isso, muitos pensam: “mas se assim for estaremos propondo o fim das denominações, das igrejas tal qual as conhecemos. As pessoas precisam de lideres, de homens com ‘autoridade para conduzir o rebanho do senhor’, conseqüentemente, as pessoas também precisam das instituições, como ‘guias do seu caminho até o céu’”. Os termos autoridade, rebanho e guia já transmitem uma idéia de poder maquiavélico.

Arrisco-me a afirmar que até mesmo a forma como encaramos a Bíblia e as “doutrinas cristãs” são uma fonte inesgotável de poder maquiavélico sobre as pessoas. Oprimimos, infantilizamos e geramos dependência das pessoas aos seus líderes e igrejas de tal forma que as desviamos da verdadeira fé em Cristo. Por mais que isso venha ser sutil e que habite os recônditos da alma religiosa, escondida nas melhores intenções possíveis, ainda sim precisa ser encara e combatida por nós.

Não quero sair com um gosto que essa condição que experimentamos hoje seja fatalista e impossível de reverter. Acredito que não tem como reverter à situação da instituição, ela é irrecuperável, na sua constituição está o DNA de Constantino e de seu “maquiavelismo romano”. Não seria então o caso de uma nova reforma, pois reforma apenas dá uma nova aparência ao que é sempre velho.

A esperança habita em vinhos novos e odres novos (Mt 9:17). O Evangelho e o “poder” (termo bastante inapropriado) que ele delega deve habitar novos espaços, estes são os espaços da nossa existência, do nosso ser, do nosso coração. O Evangelho não pode mais ser comparado as nossas instituições religiosas, não pode mais habitar ensinos congelados e narrativas que em nada influenciam nossas vidas.

De tal forma, precisamos aprender que o carisma-poder de Deus é o do amor, o da renuncia, o do esvaziamento de si, o do caminhar, o da liberdade de desfrutar da vida em Cristo. Dependência de instituição, cultos, pastores-líderes, ministérios e “xaamãs” evangélicos são puro encabrestamento daqueles que são por nova natureza filhos da liberdade.

Odres novos não são novas instituições, novos agrupamentos ou clubes religiosos onde se “detém” a verdade. São sim novas consciências formadas por Cristo e sua revelação do Pai. Sendo assim, tal condição exige liberdade, pois qualquer tentativa de detenção da verdade e da adoração a um lugar ou uma condição de autoridade descaracteriza a própria verdade que habitaria em nós.

Reúnam-se, mas não se institucionalizem!

Adorem, mas com suas vidas!

Pensem, com a mente de Cristo, e não como débeis da letra e do poder!

Leiam a Bíblia, mas não a petrifiquem como edifício único da verdade e da revelação de Deus, pois Deus fala em Cristo e na sua multiforme graça!

Vivam, mas somente na Graça!



Pensemos nisso!


Jorge Luiz Lima Chaves, Betesda Lagoa Redonda