sábado, 29 de setembro de 2007

A Vila


Estrelado em 2004 pelo diretor M. Night Shyamalan (Sexto Sentido e Sinais) o filme A Vila mistura suspense e poesia numa denúncia forte a toda forma de limitação.

Em resumo, o filme trata da história de nove pessoas que resolveram se afugentar do mundo urbano devido à violência dor, sofrimento e toda a falta de esperança que os grandes centros nos trazem. Juntos eles fundam um vilarejo no qual criam suas famílias isoladas de qualquer contato com o mundo externo.

Para manter o isolamento, esse grupo, chamado pelos habitantes da vila de “Os Anciões”, cria uma lenda sobre monstros que habitam a floresta que cerca o vilarejo. Todos os que entrarem na floresta serão mortos pelos seres chamados “Aqueles de quem não mencionamos”.

Porém algo acontece no vilarejo que ameaça a manutenção da vila. Um jovem chamado Lucius Hunt, um corajoso rapaz que desejava passar pela floresta e ir as cidades em busca de remédios para seu povo, é atacado por outro rapaz com problemas mentais chamado Noah Percy, motivado por ciúmes de seu casamento com Ivy Walker.

A grande questão agora para o pai de Ivy, o Líder dos Anciões, estava entre salvar a vida de Lucius, permitindo que sua filha, deficiente visual, fosse até a cidade buscar remédios, ou manter a mentira sobre a vila, sacrificando assim a vida de Lucius.

Mas o Sr. Walker não resiste ao amor da filha por Lucius e permite que a mesma vá à cidade e busque remédios. Antes ele conta toda a farsa sobre a história dos monstros, mas não adianta, por que Ivy ainda continua acreditando na existência de monstros. Durante sua caminhada, Noah encontra uma das roupas de monstro, e vestido nela, ele ataca Ivy na floresta, mas ela consegue matá-lo, achando assim que matou um dos temíveis monstros.

Ivy retorna da fronteira da floresta após encontrar um guarda que lhe fornece os remédios. Na verdade, os guardas da floresta são empregados das empresas Walker, e a floresta toda é propriedade do pai de Ivy, mas ela não sabe porque não pode ver. Ela retorna ao vilarejo e assim a vida na vila continuará a mesma.


O que a vila nos ensina?

Algumas coisas que são expostas no filme são de grande importância, principalmente para entendermos como podemos criar nossas gaiolas com as melhores intenções e ainda sim não alcançarmos nossos objetivos.

A Vila é uma tentativa de fuga do mundo. Lá o tempo parou. As pessoas se vestem como se vivessem no século XIX; não há luz elétrica, dinheiro, carros, ricos ou pobres. Lá tudo que é produzido é consumido entre eles. O que as crianças aprendem é apenas o necessário para manter a vila. As refeições são comunitárias. Todo o objetivo da Vila é manter as crianças inocentes, torná-las adultos bons, sem vícios, egoísmo, distanciados do mal. O Sr. Walker define a Vila como um lugar de esperança, onde se pode proteger a inocência.

Mas a que custo? Na vila as pessoas morrem de doenças que, com devido tratamento médico, poderiam ser curadas. Porém, as vidas são sacrificadas em nome do compromisso de manter a Vila incontaminada do mundo externo. O lugar de esperança é também o lugar da morte, do sacrifício tolo. A vida não estava acima da Vila.

Com isso percebemos que todo o atalho que tomamos para fugir dos males da vida são fundamentados em mentiras, e com o tempo, pela manutenção da mentira, sacrificamos a vida. Assim, caí-se em um terrível paradoxo: fugimos do mundo para mantermo-nos vivos, e para continuarmos puros até mesmo matamos em nome da mentira.

Um dos anciões afirma no filme que a tristeza fareja o homem onde ele estiver, por mais que ele fuja dela, ela sempre o encontra. A dor e o sofrimento não estão confinados um determinado lugar ou tempo, mas são condições da vida humana das quais não há como fugir. Não há fuga para morte; a violência encontrou espaço até mesmo dentro da Vila. Sentimentos ruins como ciúme e adultério também existiram dentro desse pseudo-paraíso. O que torna a Vila algo pior que o mundo é justamente o auto-engano quanto à própria condição humana.

Para os que fazem da sua vida uma Vila, todo o resto é ruim, e somente os seus são bons. A forma generalizada com a qual os habitantes da vila chamam os monstros da floresta revela a sua incapacidade de discernimento. Quanto mais isolados, mais incapazes ficamos. Todos acabam se tornando aos nossos olhos “Aqueles de quem não mencionamos", os monstros que precisamos para justificar nossa Vila. Quem não faz parte da nossa Vila não é digno de ser mencionado, não possui nome, identidade ou mesmo individuação.

Infelizmente, tal tratamento apenas reflete o que nos tornamos. Na verdade eram os habitantes da Vila que haviam perdido suas identidades, suas características, seus sentimentos e opiniões. Eram tão iguais que ficava difícil distinguir quem era quem. Uma única lei uniformizava a todos de tal forma que a neurose por perfeição gerava jovens que, dentre outras coisas, tinham medo de amassar a camisa com um abraço ou um toque. Do isolantento seguia-se para uniformidade, que resultava assim na infantilidade.

Os que vivem como se fossem uma Vila geralmente são infantilizados, imaturos quanto aos seus sentimentos, desejos e aspirações. São sempre dependentes de uma casta de “anciões” que ditam o que eles devem fazer; pensar e gostar. No mundo da Vila, infantilidade é confundida com inocência, porém, no mundo da criança podem habitar sentimentos tão ruins quanto aqueles que existem fora das nossas vilas, mesmo que seja por motivações diferentes. A floresta que rodeava a vila era seca, sem vida, sem beleza, numa representação autentica da condição interior do habitantes desse vilarejo.

Nesse caso, o Noah é o ponto principal das terríveis conseqüências da Vila sobre seus habitantes. Até que ponto os problemas mentais dele não se agravaram pela infantilidade perpetuada no vilarejo? Noah é um homem com uma mentalidade de uma criança de 5 anos. Não distingue certo e errado, não aceita regras e é extremamente desobediente, pois com freqüência ele adentrava a floresta sem medo das criaturas.

Simultaneamente, Noah era o produto e o ponto de desequilíbrio da Vila, ele é nossa pior ameaça e ao mesmo tempo o fruto de nossas Vilas interiores. Precisamos matar os “Noahs” que habitam em nós para que nossa farsa e fuga continuem de pé. Ao morrer, ele dá a desculpa necessária para que os “anciões” mantenham a mentira sobre os monstros. Porém, com o Noah tambem morre aquilo que nos faz mais humanos e todas as lembranças de que nossa Vila não é tão perfeita assim.

A Vila e “Aqueles de quem não mencionamos” são resultados dos traumas e do terrível engano da fuga como única forma de perpetuar a esperança e a vontade de viver. Como vencer os momentos ruins, de total falta de fé e desengano, sem com isso construirmos uma Vila e demonizarmos todos os que estão ao nosso redor?

A resposta quem nos ensina é o casal Lucius e Ivy. Certo momento ela pergunta por que Lucius é tão corajoso a ponto de querer enfrentar a floresta. Ele então responde:


“Não me preocupo com o que vai acontecer; só com o que tem que ser feito!"



Ele a ama de tal forma que seu único medo é perdê-la, e para evitar isso, ele deseja que na Vila haja remédios o bastante para que sua vida seja preservada. O amor lança fora todo o medo de Lucius (1 Jo 4:18), assim como também o medo de Ivy, pois apesar de seu pai tê-la revelado que os monstros eram uma farsa, ela ainda assim continua acreditando na existência deles, e o ataque de Noah disfarçado de monstro somente reforça a mentira que tornou-se verdade no coração e mente de Ivy.

O mais importante não é revelar a farsa dos monstros e dos traumas que nos limitam, mas sim vencê-los pela força do amor. É somente o amor que nos faz enxergar aquilo que não percebemos, assim como Ivy que, ao falar com o guarda da floresta, disse:



“Sinto bondade em sua voz, não esperava por isso!”



A Vila, muitas vezes, pode ser maior que a vida, mas nunca deve ser maior que o amor!

Pensemos nisso.

Jorge Luiz

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Entrevitas Bono Vox e Bill Hybels

http://www.youtube.com/watch?v=XE5w6IW7Yo8&eurl=http%3A%2F%2Fpavablog%2Eblogspot%2Ecom%2F2007%2F09%2Fbono%2Dvox%2Dbill%2Dhybels%2D1%2Ehtml

Martelo Inquisitor


Vi esse texto no site do Pr. Ricardo Gondim e achei maravilhasa a síntese que ele faz sobre o ataque da nova inquisição fundamentalista sob aqueles que simplesmente ousam pensar (até porque a fé fundamentalista não pensa, mas somente crê). Reflita um pouco:



Para facilitar os neo-Torquemadas, tentarei reescrever o mapa usado pela Inquisição para identificar, processar e queimar quem ousava pensar fora da cartilha da Santa Igreja.


1. Alfinete com precisão os pontos em que a “nova doutrina” se distancia do que foi sempre aceito como verdade.


2. Procure mostrar a perniciosidade da “nova doutrina” e como ela põe em risco a estabilidade e o futuro da fé.


3. Dê um nome à “nova doutrina”; para derrubá-la você precisa colocá-la dentro de contornos bem claros. Ela precisa de um rótulo.


4. Desqualifique as pessoas que defendem a “nova doutrina”; prove por "a+b" que só um desvairado, um inconseqüente, teria coragem de dizer aquele tipo de coisa e que os lúcidos estão na trincheira oposta.


5. Espiritualize sua cruzada contra a “nova doutrina”; diga que ela nasceu no inferno e você, como um augusto defensor da verdade, não pode permanecer calado.


6. Mostre que os argumentos da “nova doutrina” estão calcados em pessoas estranhas à verdadeira fé; mostre que católicos, judeus, ateus e, principalmente, poetas pecadores são citados para referendar a apostasia.


7. Torne o debate emotivo; antes de tratar suas possíveis discordâncias, faça afirmações bem comoventes; por exemplo: “eu não quero ir para o mesmo céu que ele” ou, “se for assim, esse Deus não me serve”.


8. Tire frases do contexto, construa raciocínios distorcidos, sofisme, contanto que o herege seja enfraquecido.


9. Cite obras sem jamais tê-las realmente lido, mencione a crítica feita aos autores e procure fazer com que as pessoas afirmem: “não li, não gostei”.


10. Reduza os conceitos do herege a um clichê ou a deduções bobinhas; assim os simplórios vão concordar com você. Enquanto os Inquisidores trabalharm, eu vou continuar a gargalhar e a celebrar a vida; amando meu próximo e procurando concretizar os sinais do Reino de Deus, que já chegou.


Ricardo Gondim

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A Paz de Cristo em um mundo sem paz

Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim... (Jo 16:33)

O sermão de Cristo aos discípulos que começa no capítulo 14 e vai até o 17 tem de tudo um pouco: palavras de fé, esperança, amor; mas também tem palavras duras e difíceis de compreender. O próprio Cristo afirma no versículo 12 que algumas coisas deveriam ficar ocultas, pois excediam a capacidade de compreensão e aceitação dos discípulos.

Algumas palavras não são inspiradoras: “Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus” (vs 2). “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” (15:18). Mesmo assim Jesus conclui o seu discurso afirmando que suas palavras são para que tenhamos paz nele. Como ter paz diante de tais prognósticos?

Primeiramente, precisamos entende algo simples que está no versículo, porém decisivo para que alcancemos o entendimento da verdade. Jesus diz que a paz está nele, e isso faz toda a diferença. Desta afirmação deduzimos que:

1. A Paz não é um sentimento que nos acomete quando nos sentimos seguros. O mundo não oferece e nunca oferecerá ao homem as condições necessárias para que ele tenha paz. A Paz que depende do que é externo é por si mesma efêmera e inconstante, pois ela é simples construção humana, e como tal é falível. Todo o discurso de Jesus mostra que a Paz não surge da atividade humana.
2. A Paz cresce em nós à medida que permanecemos em Cristo. Para simbolizar essa verdade, Jesus utiliza a metáfora da videira. A permanência em Cristo é o caminhar para o propósito ao qual Deus nos chamou em Cristo, e tal certeza de caminhar é fruto de paz em nosso coração. Sendo assim, paz não é um sentimento autômato em nós, mas surge na decisão de permanecer em fé na trilha de Jesus. À medida que o galho se incorpora a árvore, tornando-se parte indissociável, a paz cresce como transformação provinda da fé. João trabalha fé como confiança no testemunho de Jesus, liberando amor do Pai sobre nós (16:27).
3. A Paz como fruto do relacionamento com o Paráclito. O discurso de Jesus mostra que sua morte e ressurreição serão o ápice de sua missão, porém, o seu retorno ao Pai não era motivo de alegria. Quem ama que estar junto do seu amor, e os discípulos não compreenderiam a ausência do amado Mestre como algo pacificador para suas almas. Nisso, o Espírito Santo é soprado sobre os discípulos como um ato de renovação da esperança e da força de seguir, e essa é o objetivo do discurso de Jesus: mostrar que o Espírito Santo, como companheiro na nova jornada, é aquele que faz nova a esperança, a paz e coragem para caminhar. Seu sopro renovador dá a real prova de que verdadeiramente Jesus venceu o mundo, pois o mundo não é o bastante para tirar a paz do discípulo, pois o combustível do discípulo não é a história, a lógica ou as probabilidades, mas a fé que pelo Espírito Santo, Deus faz novas todas as coisas.

Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir (Jo 16:13). Falar, guiar e anunciar são verbos criador, mantenedor e recriador de tudo. Quando Deus falou ele criou os céus e a terra. Quando ele guiou seu povo ele sustentou sua promessa por sua fidelidade. E quando ele anunciar (pela fé esse verbo é sempre futuro) as coisas futuras ele simplesmente recria (e recriará) em nós e para nós a paz que surge da certeza da fé em amor a despeito de todas as forcas externas contrárias.

Sendo assim, não são as Palavras de Jesus, uma mistura de coisas boas e coisas ruins, a base da nossa paz. A paz provém de um relacionamento, uma permanência em Cristo, uma fé que vence o mundo pelos méritos de Jesus. Tal coisa excede todo o entendimento e toda tribulação.

Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor! (Os 6:3)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

E já se passaram sete anos... Reflexões


Hoje faz 7 anos que me converti. Lembro daquela noite de domingo, onde o pregador explanando sobre Marcos 3:31 nos falava sobre a verdadeira família de Jesus. Datas assim nos levam a viajar no tempo, propiciando uma reflexão que nos faça ver a nós mesmos na caminhada da vida.


Algumas coisas percebi que foram inevitáveis na minha caminhada, outras eu poderia ter evitado, mas essa soma é o que torna a caminhada minha e de mais ninguém. Algumas coisas ficaram mais nítidas em minha compreensão:


Ficou mais nítida a extensão e a intensidade do pecado em mim. Não fora a exegese nem a hermenêutica que me explicaram o versículo de Romanos 7:7 que diz que o pecado se revela pela Lei. Essa é a sensação que fiquei ao conhecer a vontade de Deus, pois dela só me veio uma única certeza: a minha completa incapacidade de viver segundo seus parâmetros. Quanto mais examino a Lei, a Vontade de Deus; menor me enxergo na Sua presença. Porém, essa sensação se intensificou em mim durante os primeiros anos de forma que me odiava e até mesmo pedia a minha morte (quem não orou a Deus pedindo para morrer!?), não conseguia suportar a idéia de viver frustrado pela percepção de que o pecado ainda atuava (e atua) em meu ser de forma mais intensa do que antes. Isso foi difícil pra mim: aceitar que ao conhecer a Verdade eu não me tornei menos pecador. A realidade é que o pecado tinha saltado aos meus olhos de tal forma que ainda hoje é difícil separar o que realmente é pecado do que a “igreja” rotula como “pecado”. Esse tem sido meu desafio hoje, ter minha mente renovada quanto a conceitos viciosos que adquirimos na sub-cultura evangélica.


A decepção com a instituição também foi inevitável pra mim. Eu afirmava antigamente para um desviado que não era certo ele sair da igreja por causa dos homens, pois Jesus não nos decepciona. Hoje eu não afirmo isso com tanta certeza. Alguns ambientes evangélicos são perigosíssimos para quem deseja manter o mínimo de sanidade, sensibilidade e humanidade; pois na verdade são fábricas de monstros. No geral tenho notado que até mesmo as comunidades que procuram viver de forma mais séria o evangelho estão contaminadas por uma “mesmice” que nos torna insensíveis. Estamos fechados em nós mesmo, na velha repetição dos hábitos institucionais, nas grandes ou pequenas “disputas de poder” (e isso ocorre infelizmente em todos os níveis da instituição, mesmo que de forma inconsciente), na liturgia vazia e esvaziadora do ser humano. Ainda me sobram dúvidas sobre o que era a vida plena que Jesus falava e que não sentimos na congregação. Estamos tomados por uma completa falta de sentido (ou do verdadeiro sentido) do que é caminhar em comunidade. Sete anos depois meu desafio é lutar para conseguir trilhar, juntamente com aqueles que ainda são sensíveis as nossas tristes condições; o verdadeiro Caminho de Emaús, lugar da manifestação de Cristo em mim e nos meus companheiros de caminhada.


Aprendi que não somos obrigados a nos conformar com o erro porque começamos errado. A capacidade do Espírito Santo em recriar vida dentro de nós é algo que me fascina. Comecei minha caminhada de forma errada em muitos pontos, fiz coisas erradas, aprendi coisas erradas; porém, o Espírito não nos abandona em erros, Ele constrói em nós, mesmo que em algumas vezes de forma imperceptível, momentos de verdade, lucidez e certeza. Quando se percebe na caminhada os momentos quem que “provamos” o vento do Espírito renovando tudo, mesmo que no silêncio da brisa que alcança as nossas “Cavernas de Elias”, sentimos que tais momentos foram pontuais para que não perdêssemos o foco da nossa fé. Somos ensinados assim que a fé deve estar em uma pessoa, Jesus, que sopra em minhas narinas novo fôlego e nos conduz assim a percebe que Ele está além das frustrações, decepções e neuroses que adquirimos em nossas trilhas tortas.


Existem mais coisas a serem ditas numa próxima oportunidade, porém acho que em mim isso que já tenho dito é importante. Não vivo mais me lamentando pelo que não sou, porém preciso aprender a viver pela Graça com minhas inadequações e com as inadequações do meu próximo. Saber vive mediante as falhas humanas não significa aceitar estar inserido de braços cruzados numa instituição que perdeu sua relevância no mundo e que tem produzido pessoas doentes; pois inquietação e denuncia são as bases do sentimento profético que surge na minha relação com Deus. Sendo assim, os próximos anos me obrigam a uma única coisa: conhecer somente a Jesus Cristo, da forma que ele é, fora de qualquer caixa delimitadora.

Obrigado por esses sete anos Senhor!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Compreendendo

Quando a fé é completamente substituída pelo credo, o culto pela disciplina, o amor pelo hábito; quando a crise de hoje é ignorada pelo esplendor do passado; quando a fé se torna um mero objeto herdado em vez de uma fonte de vida; quando a religião fala somente em nome da autoridade em vez da compaixão, sua mensagem se torna sem sentido.

(Deus em busca do homem; Abraham Joshua Heschel, pág. 19)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Videira (Jo 15:1-17)


Adoro as metáforas de Jesus, simples e diretas, mas ao mesmo tempo carregam tanta riqueza alegórica que fascina os olhos e embriaga o coração, assim como causa temor sobre nossa infeliz condição perante o Deus Vivo.


Jesus vem falando algo repetidamente nos capítulos 13 e 14 de João para que fique gravado na mente e no coração dos discípulos: “Amem uns aos outros, amem-se como eu vos amei, o amor do Pai e está em mim, o meu e vocês, portanto, amem-se como vos amei, pois amei vocês com o amor do Pai”. Tal verdade precisava ser tatuada, e era como um clamor do evangelho joaonino, surgido já na segunda geração de discípulos.


Localizar o texto em sua época é importante para compreendermos o apelo de Jesus e a verdade da parábola da videira. Era a década de 90 d.C. e a maioria dos apóstolos já haviam falecido. Jesus não retornara como era a expectativa dos cristãos da época e a perseguição romana aos cristãos e judeus já havia ganhado força em todo o Império. Em contrapartida, o movimento cristão já ganhava contornos de religião organizada, até mesmo como forma de tentar se preservar da perseguição.


Esse contexto foi altamente perigoso para. A perseguição romana ameaçava a unidade dos cristãos, e a institucionalização ameaçava o amor cristão. Quanto mais a igreja se hierarquizava, crescia a sensação de separação entre os cristãos, e assim, a nova comunidade passava a ganhar traços mais judaicos.


João é um evangelho que denuncia o mal da institucionalização que já ameaçava o grupo dos discípulos. Apesar de toda perseguição romana, o escritor está preocupado com o mal interno, com a distorção da mensagem evangélica, do engessamento que a liturgia e a doutrina já estavam causando entre a comunidade. Um dos fatos que evidenciam tal postura encontra-se na cerimônia do “lava-pés” (Jo 13) que “toma o lugar” da narrativa da última ceia; sugerindo que o evangelista estava mais preocupado em ensinar sobre a essência e a atitude cristã que antecede a ceia do que mencionar a própria cerimônia em si, já bastante conhecida dos cristãos da época.
Sendo assim, para deixar ainda mais exposto o cerne da mensagem de Jesus, João conta a metáfora da videira.


A videira era conhecida entre os cristãos judeus, por ser símbolo da nação judaica entre os profetas do Antigo Testamento (Jr 2:21, Is 5:1). Ao ser chamado de Videira, a imagem que vinha ao povo judeu era do cuidado e da eleição de Israel como povo de Deus entre os vários povos. A mensagem era: “Somos uma nação escolhida e cuidada por Deus, pois temos guardado seus mandamentos”. O povo que era videira tinha Deus como seu agricultor, o qual zelava pelo povo através da manutenção da Sagrada Lei.


Naturalmente, para alguns, Jesus mudou o foco da simbologia da videira, sendo agora o símbolo da Igreja, da comunidade de Cristo. Porém, o Jesus joanino é mais radical. Deus é tanto o agricultor como também é a própria Videira, a Videira Verdadeira.


Tal mudança trazia consigo algumas considerações que deveriam ficar vivas nas mentes dos cristãos daquele tempo, como também em nossas mentes.

1ª Jesus como a Videira é símbolo máximo da renuncia de Deus para relacionar-se conosco, caminhando no chão da nossa existência. O Agricultor cuida e assiste a videira crescer e frutificar, mas do lado de fora. Jesus, porém, é quem passa para lado de dentro, quem vive a nossa vida e se compadece de nós como mediador que conhece nossas fraquezas porque as experimentou e as venceu. Para homens perseguidos que estavam vendo Jesus distante, atrasado em sua Parousia; pensar nele como videira plantada em nossa vida, nosso chão, era como recobrar o animo e reacender a fé. Jesus como Videira é o Cristo que permanece convosco até a consumação dos séculos.


2ª Na videira Jesus somos simplesmente ramos, galhos. Com isso, Jesus recobra a nossa insignificância diante da “graça-seiva”, concedida por ele, para que frutifiquemos. Somos galhos, e somos mais abençoados à medida que permitimos que a “seiva-graça” possa encontrar em nós caminho para circular. Assim sendo, a qualidade do galho resume-se a se tornar mais semelhante à videira, caminhando em um só sentido com a videira, e qual é o objetivo da videira senão frutificar? E qual o fruto de Cristo em nós que não seja o amor mútuo, que se manifesta no serviço ao próximo e encontra respaldo na oração a Jesus?

Tais pontos são como soco “na boca do estômago”, mina nossa pretensão de sermos instituição, quando Jesus quer de nós que sejamos apenas organismos vivos, frutificadores da Graça de Deus em Jesus, sem diferenciação, pois galho é galho.


Jesus Videira Verdadeira é o Cristo que suja os pés na nossa caminhada, esse é o Cristo que importa a nós estarmos ligados. Ele sendo Videira, destrói toda pretensão de sermos nós o sustentáculo do mundo, de determinarmos quem é ou não galho, de sermos nós mesmos o fim em si. Somos apenas instrumentos para que se evidencie no mundo o fruto de Cristo, sem auto-glorificação. Não é a instituição que faz de nós um grupo unido e amoroso, mas sim o quanto estamos ligados e comprometidos com o Cristo-Videira Verdadeira.

Creiamos nisso!

sábado, 1 de setembro de 2007

Herege, Eu!?

Só a título de comunicado, gostaria de contar para aqueles que me visitam em meu blog sobre a minha sensação de ser nomeado como herege e participante de seita. (rs)

É o que está acontecendo na mente de alguns pelo fato de ter optado em continuar na minha igreja (Betesda), a qual tem sido nomeada como seita e lugar de endemoninhados pelos evangélicos em geral, e isso por que ele simplesmente ousa pensar fora das cercas.

Na verdade sinto orgulho de ser incluido entre os hereges, entre os que pensam, entre os que ousam. Mas também sinto um pesar pelos irmãos e "amigos" nos quais confiei e que hoje vejo que nao me conhecem. Já houveram insinuações de que "arrastei" minha noiva para continuar na Betesda contra a vontade dela; de que me vendi pelo dinheiro da Betesda e por um prometido "cargo" de pastor e que abandonei a Igreja Cristã Gileade por causa dos poucos recursos que ela disporá agora.

Aos que pensam assim, não há no meu coração desejo nenhum de convencê-los do contrário, apenas digo uma coisa:

O tempo trará todas as respostas!

Naquele que Creio e Sirvo! A Paz!