sábado, 25 de agosto de 2007

DISCERNINDO JESUS SEGUNDO A APARÊNCIA E SEGUNDO A ESSÊNCIA (JO 6:22-35)


Jesus havia alimentado provavelmente mais de 10.000 pessoas ao pé do monte, mas para as pessoas que haviam comido; mais importante era o simples fato de comer do que saber como um homem pobre como Jesus conseguiu tanto alimento para tanta gente.


Só viu o milagre quem estava realmente próximo de Jesus. Os que não viram e não creram, mas mesmo assim comeram, continuaram a seguir Jesus, mas não pelo que Jesus é, mas pelo que ele pode dar.


Nesse contexto Jesus diz:


Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.


Aí está a chave:


Discernimos Jesus pelas motivações que habitam nosso coração


O Jesus segundo a carne é aquele que nos farta de pão, de desejos, de bênçãos.


O Jesus segundo a carne é o histórico, o filho de José, o mestre milagreiro, mas nunca o Filho de Deus.


O Jesus segundo a carne pode fazer o sinal que for; o milagre que for, mas sempre perguntaremos a Ele: “Que sinais realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obras fazes?” (Jo 6:30).


Já o Jesus segundo o Espírito, a Essência, é simplesmente crido e quase nunca compreendido. Ele simplesmente diz:


“A obra (serviço para) de Deus é que creiais naquele que ele enviou”. (Jo 6:29)


“Eu sou o Pão da Vida”. (Jo 6:35)


Existe lógica pra isso? A carne pode discernir tais palavras?


Dá-nos mais fé senhor, simplicidade, para te buscar não segundo a carne, não para sermos saciados do pão que perece, mas sim para que verdadeiramente nos alimentemos de Ti, o único e incompreensivo Pão da Vida.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sensação de Inutilidade


Acredito que uma das piores sensações que alguém possa sentir na vida é a da inutilidade. Apesar de ser saudável e me considerar normal (na medida do possível, rs), sinto me freqüentemente acometido por esse sentimento de ser alguém inútil.


Hoje estou em casa, e confesso que ando cansado, mas deito na cama e não consigo dormir. Já tem algumas noites que meu sono é irregular, acordo mais cansado do que quando dormi.


Meus dias estão passando, logo logo minha juventude se vai como vento, então uma pergunta me persegue dia e noite: o que farei com os meus dias? Onde estão meus planos e sonhos? Porque não consigo fazê-los acontecer?


O sonhador é o maior frustrado de todos os homens quando ele só habita os sonhos e não consegue fazer deles realidade. Sonho por sonho não gera vida. E me sinto assim, sem vida, preso aos sonhos que não consigo realizar.


Qual o segredo para dizer aos sonhos: Façam-se! Tornem-se realidade!? Não estou falando de grandes sonhos, mirabolantes, estou falando de planos, projetos, objetivos a alcançar. Existe segredo para isso? Sinto meus dias como o pregador de Eclesiastes qualificava: vida sem sentido!


Sinto carência de produzir, de construir, de fazer minha vida acontecer. Não quero a inércia como companheira de caminhada. Sinto-me como um morto-vivo.


Esse é meu estado o qual apresento a Deus, pois até aqui Ele tem me ajudado. A oração que faço diante de Ti é que teu Espírito possa recriar minha vida; seja a Tua voz que traga meus sonhos a existência, e que Tua fortaleza seja a minha paciência. Pois quem terei a não ser o Senhor, quem em plenitude derramou graça sobre graça.

Esse texto-oração-desabafo entrego a Ti

Amém

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O EVANGELHO DE JOÃO E A “SEMANA DA NOVA CRIAÇÃO”

Ler o evangelho deve ser um exercício de pura atenção, caso contrário, ricos detalhes poderão passar por nossos olhos de forma despercebida.

Se lermos com atenção os capítulos 1:19-51 e 2:1-12, algumas detalhes poderão saltar aos olhos:

A narrativa se desenrola no contexto de sete dias, uma semana completa, que vai do Batismo de Jesus até as bodas de Caná. Sem recorrer a tipologias ou mesmo alegorias entre o que João escreve e o texto da criação de Genesis, o fato do evangelista ter colocado essa semana em evidência nos revela a missão do Verbo que habitou entre nós: A nova criação, a salvação.

Não há criação sem salvação, o Deus que cria é o mesmo que salva/recria.

Jesus faz discípulos e transforma água em vinho, salva e recria, restaura, transforma. Essa é simplesmente a verdade do evangelho.

Só para corroborar, note que o evangelho de João consta apenas sete milagres narrados, chamados sinais, e isso é novamente uma alusão a semana da criação. Jesus mostra seu poder divino e re-criador operando sobre o natural de forma sobrenatural.

A salvação não é só Deus resgatando o espírito, mas o sobrenatural agindo sobre nossa natureza corrompida. Isso é a própria essência da Graça, o fato definitivo que a salvação é sobrenatural.
Outro ponto que o evangelista deixa claro na “semana da nova criação” é que nenhum rótulo pode conter o que Deus tem a fazer em favor do mundo. Os chefes da religião vão até João Batista e perguntam se ele é Elias, o Profeta ou o Messias.

A mente religiosa só sabe ler rótulos, mas não compreende o que está por trás dos rótulos. Os rótulos escondem o verdadeiro conteúdo.

João Batista não aceita rótulos. Até mesmo porque ele se vê como alguém que possui identidade perante Deus. Ele possui um chamado específico que não está fechado à identidade de Moisés, Elias, ou do tão aguardado Profeta. A mente religiosa só compreende aquilo que ela pode rotular. Mas Deus, em Jesus e em João Batista, quebra rótulos e faz as coisas acontecerem de maneira “não-convencional”.

Para João Batista, Jesus é o que Batiza com o Espírito Santo. O rótulo Messias “não cola” em Jesus, até porque a concepção messiânica naquele período estava corrompida. Portanto, o evangelho joanino fala de Jesus fora da “forma” pré-concebida. Doador do Espírito Santo condiz mais com a noção que essa semana da “nova criação” sugere no evangelho de João.

Doador da Vida, do Espírito, não cabe em nenhum rótulo, pois o agir de Deus não cabe em nenhuma idéia ou forma, mas transborda além de todas as concepções.

A semana da nova criação em João é isso: a manifestação do Doador da nova vida, que faz nova todas as coisa, que transforma não água velha em água nova, mas sim em vinho novo.

sábado, 18 de agosto de 2007

Discurso de Formatura

Abaixo segue o discurso que fiz como orador da turma 2007.1 do ICEC, ontem, dia 17/08/2007. Agradeço a todos os amigos que mesmo não comparecendo sempre torceram por mim nessa caminhada. Mas a trilha não terminou, ainda tem mais, por isso conto com todos vocês.


Não quero tornar este momento nostálgico; relatando daquilo que vivemos durante os quatro anos em que estudamos. Pois as lembranças são particulares, e só possuem o poder de tocar os que as viveram. Elas sempre estarão conosco e serão assunto de nossos próximos encontros. Falar de lembranças é ser injustos com a grandeza de cada acontecimento vivido.

Não é de lembranças que quero falar com vocês. Estou aqui para falar de marcas que foram impressas em nossas almas durante todo esse tempo. Marcas não podem ser apenas lembranças, não podem ser apenas saudade, discurso ou assunto de um bate-papo ocasional. Marcas são heranças que levamos deste tempo; herança essa que não se limita aos ensinos, mas que compreende tudo o que aprendemos fora dos livros e compêndios teológicos. São essas marcas que adquirimos nesses quatro anos que definem parte do nosso procedimento na vida e no serviço cristão que nos é confiado pelo Senhor de todos os dons e talentos.
Marcas profundas nortearão o nosso caminho, e delas não podemos esquecer e muito menos não vivê-las.
Primeiramente cito a marca da tolerância. Não há simplesmente especialistas em doutrina dos que se formam comigo hoje, porém saímos daqui pessoas que aprenderam a tolerar e respeitar o livre pensar teológico. Descobrimos que o teólogo é antes de tudo alguém emancipado e liberto para contemplar a beleza que existe em cada pensamento elevado ao Criador. Ser marcado pela tolerância é ser livre de qualquer gaiola mental ou estreitamento de consciência. Porém, tolerância não significa aceitação de qualquer conjectura que se proponha a difamar ou diluir a genuína mensagem do evangelho. Portanto a tolerância que nos acompanha caminhará sempre unida ao discernimento, e que este seja antes de tudo espiritual.
Não há como deixar de sentir a marca da perplexidade. Descobrimos que se não estivermos presos na milenar armadilha de construirmos uma “Babel teológica”, nos restará apenas à perplexidade diante da grandeza de Deus. Saímos daqui teólogos perplexos e maravilhados não por sermos detentores de todo o conhecimento divino, mas porque desistimos, durante esses quatro anos, de tentar enjaular Deus em nossa lógica sistêmica, já que tal tentativa é sempre fadada ao fracasso e a um reducionismo da divindade. Saímos daqui não com Deus em nossas mãos, mas sim completamente rendidos, maravilhados e inundados pela grandiosa presença do Senhor.
Uma última marca que fica é a diaconal. Quantos de nós terminamos este seminário com perguntas sobre o que iremos fazer daqui pra frente com tudo que ouvimos e aprendemos. Mas por trás de todas as nossas perguntas só há uma resposta: servir. Nisso, o verdadeiro teólogo não se torna um “doutor em divindade”, mas sim um mestre em almas, um serviçal do Reino, alguém que conhece o homem e a Revelação de Deus em sua Palavra, exercitando assim seu discernimento espiritual para aplicar a Palavra à vida. O maior trabalho teológico hoje é servimos na construção de pontes que liguem a revelação de Deus ao nosso cotidiano, contribuindo assim para o maior projeto de Deus: o resgate de nossa humanidade. Fugirmos de tal responsabilidade será o mesmo que renunciar a vocação teológica para qual Deus nos tem chamado nesses dias tão difíceis.
Acredito que essas marcas imprimidas em nós contribuirão para que esses quatro anos de seminário não venham formar em nós uma teologia obsoleta e irrelevante para nosso contexto, porém seja sim um instrumento vivo e eficaz.
Portanto, somos gratos ao ICEC, ao diretor Paulo Mauricio e a todo corpo de professores e funcionários, os quais foram peças fundamentais para que essas marcas fossem forjadas em nossas vidas. Não só eles, mas cada igreja representada pelos formandos e aos familiares e amigos aqui presentes, que de alguma contribuíram para que cada um de nós estivesse hoje vivendo esse momento.
E por último, não podemos deixar de agradecer a Deus, que em tudo fora nosso guia, fortaleza, consolo, exortação e motivo maior de todo nosso esforço em concluirmos essa etapa de nossa vida.
Que Deus abençoe a todos, em nome de Jesus.

sábado, 11 de agosto de 2007

Quero Experimentar

Conta a história que Tomás de Aquino, talvez o maior teólogo do mundo, parou de escrever repentinamente perto do fim de sua vida. Quando seu amanuense reclamou que sua obra estava incompleta, Tomás respondeu: "Irmão Reginaldo, quando eu estava em oração há alguns meses, experimentei algo da realidade de Jesus Cristo. Naquele dia perdi todo o apetite por escrever. Na verdade, tudo o que escrevi sobre Cristo me parece agora como palha.

Citacao feita por Brennan Manning no livro "O Evangelho Maltrapilho", pág. 206