segunda-feira, 30 de abril de 2007

Nostalgia e Morte


Assisti a um filme ontem chamado Menina dos Olhos, um filme muito bom que fala da importância dos relacionamentos. Filmes assim me mostram que a revelação de Deus não está presa apenas as paginas da Bíblia (Ops! desculpe-me os guardiões da ortodoxia pela minha heresia! rs).


O filme fala de um homem chamado Oliver Trinké (Ben Affleck), um relações públicas (RP) de artistas famosos. Muito dedicado ao trabalho e ao sucesso que o advinha, ele não sabia simplesmente o valor de desfrutar os simples momentos da vida. Pouco tempo para a mulher, para o pai, para os amigos; enfim, qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.

Mas como diria o desafortunado Joseph Climber: a vida é uma caixinha de surpresas! E essa caixinha de surpresas se abriu para o Oliver de uma maneira desastrosa. Sua esposa morre no parto e com pouco tempo depois o mesmo perde o emprego devido a um terrível comentário contra a imprensa e um artista (no caso o Will Smith).


Resultado: sua vida muda tempestivamente, ganha outros contornos, muito diferentes do que o que ele estava acostumado. Ele volta para a casa do pai, arruma um emprego como funcionário do município, cuidando dos esgotos e do lixo da cidade, como seu pai fazia. Ele precisa agora se dedicar a filha, e faz isso no sentido de se auto-penitenciar pela morte de sua esposa, tão prematura que o casal não teve tempo de curtirem a própria felicidade de estarem juntos.


Ele vive essa vida, que é o oposto do passado. Agora ele é solteirão, viúvo eterno, residente na casa do pai, catador de lixo e pai de uma linda garotinha de 7 anos. Porém ele não entende o que é essa nova vida. Vive o agora estando preso ao passado, vive se alimentando das glórias do seu passado de riqueza e sucesso, não desfruta o hoje e não faz o passado acontecer de novo, está num nó existencial terrível.


Seu sonho é voltar à vida que já teve, e que lhe foi roubada pelas circunstâncias. Com isso, ele não respeita a vida dos que estão ao seu redor, inclusive a da sua filha. Até que um dia, numa conversa com aquele que foi a causa da sua demissão, e assim a causa da sua mudança de vida, ele percebe que o que lhe aconteceu foi o melhor que poderia ter acontecido, pois ele simplesmente pode desfrutar o que vale a pena, a simplicidade da vida. Foi como se Deus tivesse mostrado a ele, ali naquela conversa, que ele tinha ganhado a oportunidade ser e de viver aquilo que ele não viveu com sua falecida esposa; era a chance de valorizar o simples.


Filmes assim me fazem ver que não buscamos mais o que vale a pena, o simples. Não vivemos nossas vidas hoje, vivemos o que fomos ou o que queremos ser. Estamos presos ao passado ou ao futuro e simplesmente não desfrutamos o agora. A vida é feita do agora, do que temos hoje.


Jesus já nos havia dito que não devemos estar ansiosos por coisa alguma. E isso inclui ansiedade pelo que fomos e não somos mais e ansiedade pelo que queremos ser ou voltar a ser amanhã. A beleza da vida está no agora, nos amores de hoje e não do passado, na profissão de hoje e não do passado, nas oportunidades de hoje e não nas perdidas, no dia de hoje e não no de amanhã.


Precisamos que Deus nos abençoe com o discernimento de desfrutar o agora, e isso só ocorre quando Ele consegue fazer com que “caia a ficha” e percebamos assim o valor do que temos hoje. Isso inclui principalmente aceitação do que se é do que se tem. Nostalgia e futurismos matam a vida.

Pensemos nisso.

Jorge

quinta-feira, 26 de abril de 2007

FALANDO DE DEUS SEM NEXO: maneira única... Texto do site www.caiofabio.com


Deus. Este é o tema. Este é o assunto. Deus tema. Deus assunto. Deus criado. Deus pensado. Deus explicado. Deus teologizado. Deus filosofado. Deus objeto. Deus de estudo. Deus de discussão. Deus de letras. Deus de palavras. Deus de idéias. Deus segundo o homem. Deus conforme a nossa imagem. Deus de acordo com os tempos. Deus segundo as Eras. Deus de escritores. Deus de doutores. Deus de divinos mestres em divindade. Deus ensinado. Deus aprendido. Deus exposto em frases. Deus divido em atributos. Deus feito uno pelo fragmentado “homo-sistematikus”. Deus livre... Deus preso a si mesmo. Deus? Deus! Deus?! Deus fora... Deus nas idéias. Deus na cabeça. Deus na mesa de cirurgia de idéias. Cirurgiões de Deus. Deus cadáver. Deus de ontem. Deus da saudade. Deus da tristeza. Deus da vida oca. Deus da depressão. Deus do pânico. Deus do medo. Deus da culpa. Deus das liberdades... Deus do não. Deus do sim. Deus do quem sabe. Deus do arrependimento. Arrependimento que é mais que Deus. Deus que é mais que arrependimento. Arrependimento que é do homem. Arrependimento que é de Deus. Arrependimento que é de Deus e do homem. Homem livre. Homem escravo. Deus do homem. Livre segundo o homem. Impedido conforme o Pensamento. Deus que não é visto no que de Deus se pode conhecer... Deus que não é visto onde disse Ser. Deus sem Deus. Deus sem Mistério. Deus sem Palavra. Deus manco. Deus ajudado. Deus sem voz. Deus falado. Deus em perigo. Deus salvo por teologia. Deus indegustável. Deus cozido. Deus temperado. Deus servido em bandejas de pensamentos. Deus no tempo. Deus antes. Deus depois. Deus no passado. Deus no presente. Deus no futuro. Deus segundo o homem e o tempo. Tempo no qual Deus tem que caber. Tempo no qual Deus tem que ser explicado. Tempo no qual o Deus segundo o homem existe. Deus comparado. Deus perdido em disputas. Deus ganho em querelas.

Deus assim... Deus me livre!

Todo perdido como nós, que falamos, mas não queremos de fato conhecer; que discursamos, mas não provamos; que buscamos sem a ânsia do achar; que não é crido no que declara de Si mesmo; e que tem que ser objeto de nossa especulação que apenas adia o dia de nossa conversão ao Mistério e à Sua Graça. No Mistério encontramos o Conhecer que é. Em Sua Graça somos.


Mas quem é suficiente para estas coisas?


Se não é suficiente nem mesmo para o que recebe e não discerne, como o será para entender ou explicar Aquele que é Mistério?


Nascer de novo faz a gente entrar e ver o reino de Deus.


Mas quem entrou e viu desistiu de explicar. É Mistério. É Graça. É irreferível!


Assim, Ele diz: “O meu justo viverá pela fé”.




Caio

24/04/07
Lago Norte
Brasília

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A estranha tese de um judeu errante que não errou uma


De Paulo Brabo



Há dois mil anos, debaixo deste mesmo sol, um judeu desaforado sustentava a escandalosa noção de que Deus não aceita as pessoas com base em sua herança genética, desempenho moral, pureza sexual, popularidade, capacidade comprovada de empreendimento, consistência na observância religiosa, quociente de inteligência, saldo médio, nível de crédito ou qualquer outro mérito ou demérito curricular usual, mas com base em seu próprio cavalheirismo e graciosidade – aquilo que a Bíblia chama de graça.


Uma característica fundamental do Deus que é Pai, propunha Jesus, é que ele não faz barganhas. Todas as tentativas pessoais e corporativas de ganhar o seu favor e a sua preferência não são apenas inúteis mas contraproducentes: geram em nós uma falsa impressão de mérito pessoal (que só irá nos prejudicar) e não ajudam em nada a limpar a nossa barra.

O Deus da boa nova requer ao mesmo tempo muito mais e muito menos. Para agradá-lo é preciso abrir mão de qualquer tentativa de agradá-lo – e começar a imitá-lo; para imitá-lo é necessário abrir mão de nossa tendência a enxergar
diferenças de mérito entre bons e maus, e passar a conceder a todos o mesmo improvável tratamento e as mesmas chances. É preciso aprender a dispensar nosso sol e nossa chuva sobre justos e injustos, sobre os que nos agradam e sobre os que nos odeiam, sendo nisso singulares como Deus é singular – santos como Deus é santo.


Para as pessoas que haviam feito de agradar a Deus sua vida, sua tese e sua profissão, a mensagem de Jesus era impensável escândalo. Os religiosos do tempo de Jesus acreditavam, como os de hoje, que o homem não deveria ser livre para não ter de agradar a Deus. Os riscos de tal liberdade eram incomensuráveis. O único modo de manter o homem seguro na senda da moral e da salvação, sabiam eles, era debaixo das rédeas seguras da religião.


Jesus por outro lado, não tinha uma palavra de condenação para oferecer aos corruptos, aos promíscuos, aos terroristas, aos militares da ocupação romana, às prostitutas, aos samaritanos, aos vendidos colaboracionistas, aos criminosos de colarinho branco, aos injustos, aos imorais, aos glutões, aos bêbados, aos mendigos, aos preguiçosos, aos violentos, aos pegajosos, aos irritantes e aos irritados e a todos os seus asseclas de todas as estirpes. Jesus não os condenava, não porque simpatizasse particularmente com a sua conduta, mas porque se condenasse a um teria de condenar a todos. Se todos recebessem o que mereciam, conforme refletiria Hamlet, ninguém escaparia ao açoite. Não há um justo, não há ninguém com uma ficha limpa. Nem mesmo um.

Como não há ninguém que possa levantar a mão dizendo que fez corretamente a lição, todos carecem e recebem o mesmo tratamento paciente do mesmo paciente Pai. Não adianta chamar de lado oferecendo maçãs, propinas, untuosos elogios ou longas orações. Estar na condição humana é estar embarcado num mesmo orgulhoso e precário Titanic, e para encontrar a paz é preciso primeiro reconhecer isso. É requisito encarar a dura e libertadora realidade de que você não é melhor do que ninguém e que carece da mesma misericórdia que todos os outros.
Para os pecadores sem máscaras é, curiosamente, mais fácil.

Significativamente, as palavras de condenação de Jesus estavam reservadas para os que apregoavam que as boas intenções da religião institucional eram a solução para o problema de garantir-se um lugar no bote salva-vidas do Titanic da condição humana – e tentavam impor austeramente essa solução sobre os outros.

Nenhuma noção parecia a Jesus mais odiável do que essa. Para Jesus, acreditar e agir como se a barganha da religiosidade pudesse de alguma forma garantir alguma cumplicidade com Deus não era apenas a maior impenitência de todas. Era a única.“Aprendam o que quer dizer eu quero misericórdia e não sacrifício”, vociferava ele. E falava sério

O Limbo foi fechado! Santa Ignorância!


Na interpretação de artistas, o limbo é um local obscuro, indefinido – mas não é o inferno. É para onde, segundo a teologia católica, iam as almas das crianças que morriam sem batismo: inocentes, mas sem se verem livres do pecado original.


A Comissão Teológica Internacional do Vaticano divulgou um documento dizendo haver "sérias razões teológicas para crer que as crianças não batizadas que morrem se salvarão e desfrutarão da visão de Deus".

A publicação do documento foi autorizada pelo Papa Bento 16, que estudava a questão desde 1984 e deu a ela prioridade no trabalho pastoral, dado o número de crianças que nascem de casais de diferentes religiões e não são batizadas. O então cardeal Ratzinger dizia que o limbo nunca fora considerado um dogma da Igreja e nem é mencionado no catecismo.

"A exclusão de crianças inocentes do céu não parece refletir o amor especial de Cristo pelos menores", diz o texto da comissão que eliminou o limbo.


Essa foi a reportagem anunciada no Jornal da Globo do dia 20/04/2007. O Limbo foi fechado por ser obsoleto! rsrsrsr. Ele não tem mais espaço na vida do homem moderno, as crianças de hoje não sai mais as do passado, da época que se criou essa aberração teológica (juntamente com o purgatório).


Mas e agora?


Pra onde vão as pobres criancinhas manchadas pela existencia do Limbo, esse lugar terrível de perdição? Pra onde foram remanejadas? rsrsrsr


Ah sim! desculpe, na visão católica agora elas foram promovidas para o céu! Que coisa maravilhosa!


É rir para não chorar! Pois o sentimento é de pura revolta! Quantas mães enterraram seus filhos acreditando que eles nao tinham sido salvos pela simples ausencia de um ritual? quanta dor essa inverdade acerca de Deus trouxe a tantas famílias? Quantos pais obrigaram seus filhos, a todo custo, que passassem por esse ritual para herdar o Paraíso?


Isso chama-se religião, seu poder é de morte, é de brincar com a vida, com alma e com o futuro das pessoas, até mesmo dosm pequeninos. O que eu acho engraçado (desculpe o sarcasmo) nisso tudo é que o atual papa estuda desde de 1984 a possibilidades de descartar da teologia católica o tal do Limbo, e só agora se fez isso, após 23 anos! (O Limbo foi criado por São Gregório no séc. IV).


Todos os que nao passaram pelo batismo e que nao cometeram pecados graves eram mandados para o Limbo, pois morreram com a mancha do pecado original e nao foram salvos. Isso inclui todos os que viveram antes de Jesus Cristo. Pra onde foi esse povo todo também?


Isso tudo é uma grande palhaçada! Coisas da religião! O papa fez uma reengenharia celestial! pode abrir e fechar até mesmo o Inferno se ele quiser! rsrsrs


Será que agora o purgatório está com os dias contados? cenas de um próximo capitulo! Mas como não participo dessa novela da "vida católica", realmente não me importa muito, pois em Jesus entendo que só há uma coisa: Salvação



sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Jesus Inigualável - Mc 2:1-12


1 Poucos dias depois, tendo Jesus entrado novamente em Cafarnaum, o povo ouviu falar que ele estava em casa. 2 Então muita gente se reuniu ali, de forma que não havia lugar nem junto à porta; e ele lhes pregava a palavra.
3 Vieram alguns homens, trazendo-lhe um paralítico, carregado por quatro deles. 4 Não podendo levá-lo até Jesus, por causa da multidão, removeram parte da cobertura do lugar onde Jesus estava e, pela abertura no teto, baixaram a maca em que estava deitado o paralítico. 5 Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os seus
pecados estão perdoados”.
6 Estavam sentados ali alguns mestres da lei, raciocinando em seu íntimo: 7 “Por que esse homem fala assim? Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?”
8 Jesus percebeu logo em seu espírito que era isso que eles estavam pensando e lhes disse: “Por que vocês estão remoendo essas coisas em seu coração? 9 Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os seus pecados estão perdoados, ou: Levante-se, pegue a sua maca e ande? 10 Mas, para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” — disse ao paralítico — 11 “eu lhe digo: Levante-se, pegue a sua maca e vá para
casa”. 12 Ele se levantou, pegou a maca e saiu à vista de todos, que, atônitos, glorificaram a Deus, dizendo: “Nunca vimos nada igual!”


Jesus está em casa, e novamente uma multidão lhe cerca. Multidão é o mundo que nos cerca hoje, com suas idiossincrasias. Ali tem gente que quer apenas ouvir, gente que quer ouvir pra refutar, gente que está ali porque todo mundo também está. Enfim, existem pessoas que buscam Jesus pelos mais variados motivos.

Independente dos motivos, Jesus simplesmente os recebe, com sua simplicidade esmagadora, e apenas fala, fala, fala e fala, e com certeza era sobre o Reino de Deus. O que é o Reino de Deus pra Jesus senão o momento onde todos são incluídos, com suas diferenças, em uma só comunidade de aceitação. Jesus fala sempre de um Reino onde não há maior, menor, ou melhor, pois nele somos apenas um.

Naquele momento havia pessoas dos mais diferentes níveis, e que se viam diferentes uns dos outros. Em todo momento Jesus prega sobre um Reino onde todos são incluídos, e isso para pessoas que não se enxergavam como iguais.

Então entra o miserável paralitico. Seus amigos, que pelo simples fato de serem amigos de um doente (já que naquela época a doença era um sinal de maldição divina) já mostravam que não se viam melhores ou piores que o pobre paralítico. Apenas o levaram movidos por essa fé.

Mas não bastava apenas levar até a casa de Jesus, pois a casa estava cheia e o paralítico não podia entrar, assim como ele não podia ir ao templo, pois naquele “lugar santo” não havia espaço para sua “deficiência pecadora”.

Mas eles foram ousados. Não desistiram, acreditavam eles que Jesus era diferente, porque a mensagem dele era diferente, e aquele “pobre paralítico” tinha que ouvi-la. – “Então vamos fazer o impossível para que ele possa ouvir, pois esse Jesus é inigualável. A única saída é pelo teto, vamos correr o risco, pois esse Jesus é inigualável”.

Então esses homens passam o paralítico por uma brecha no telhado da casa de Jesus. Essa é a atitude de fé de quem entende que Jesus é único, inigualável e que aquele era um momento único na vida deles, principalmente na vida do paralítico.

Você queria motivo maior do que esse para que Jesus se admirasse da fé deles?

A fé que faz com que Jesus se admire não é a fé no milagre da cura, mas a fé no milagre do Reino, a fé no milagre de que, no Reino, eu posso me aproximar com ousadia na presença de Deus sem intermediários. A fé que causa “espanto” em Cristo é a fé daqueles que entendem que a mensagem do Reino é inigualável, e quebra com todas as barreiras que separam. A fé que “move a mão de Jesus” é a fé de que no Reino todos somos realmente o “próximo” do outro.

Por mais que naquele momento eles desejassem ver o amigo deles curado (apesar do texto não citar essa vontade deles), a fé deles já os havia curado, pois eles entenderam a importância da mensagem do Reino.

Nessas condições não há mais pecados, os pecados foram perdoados, e somente aquele paralitico podia entender a profundidade daquela afirmação de Jesus em sua vida. Se ele entendeu que em Jesus nada mais o separava de deus, então ele foi alvo ali do perdão de Deus, pois ninguém se aproxima com tamanha fé diante de Deus se antes o próprio Deus não o tivesse perdoado.

Mas para os religiosos, os hipócritas, aqueles que diferenciam entre santos e pecadores, o que estava acontecendo ali era uma blasfêmia, já que aquele Jesus era um homem, e como homem não podia perdoar ninguém. – “Deus não pode aceitar esse paralítico de forma tão simples assim, isso é blasfêmia!”, pensavam os raivosos donos do poder religioso.

Mas na ótica do Jesus e na ótica do reino, nada havia sido tão simples assim, a aceitação de Deus vem da cura do coração, do arrependimento daqueles homens demonstrado pela fé nos princípios do Reino pregado por Jesus. A cura do arrependimento é mais séria e mais difícil que a cura do corpo.

Fazer o paralítico andar foi um sinal não para o paralítico, mas para aqueles que ainda não enxergaram a realidade do Reino. A cura física do paralitico era a representação terrena, carnal, física, daquilo que Deus, através da sua palavra, já havia feito na vida daqueles homens, e ela em si era importante apenas para os cegos fariseus religiosos.

Que bom se eles tivessem compreendido isso, pois diriam como dissera a multidão: Nunca vimos nada igual!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

RELIGIÃO E IDOLATRIA

Postarei um trecho do livro Carta aos Romanos de Karl Barth sobre a diferenciação entre o relacionamento com Deus na visão da religião e na visão de Cristo. Excelente texto; veja:

Toda a religião conta com uma destas duas modalidades de interrelacionamento com Deus: ou irão praticar obras que sejam agradáveis a Deus, ou Deus retribuirá aos homens, de alguma forma notória, no procedimento (talvez na conversão) de uma pessoa, (grupo de pessoas) e do mundo, como resposta a essas obras. (orações, promessas, etc...)


Na primeira modalidade, pretende-se que o “crente” tenha a atitude, o procedimento que, de alguma maneira, possa justificar a reivindicação (ou a pretensão de provocar,) de produzir o beneplácito divino e assim, merecer a retribuição de Deus. (“Pois Deus retribuirá a cada um segundo o seu merecimento”...).

Na segunda alternativa, o “crente” espera que Deus “pagará”. (Deus retribuirá e responderá) às obras, provocando uma modificação na conduta, no procedimento, na atitude, das pessoas e da sociedade, resultados esses visíveis e reconhecíveis pelo mundo.

[...] Desta forma, o encontro do homem com Deus perde as suas características de total incomensurabilidade e de absoluta incomparabilidade para dar lugar à possibilidade de o homem gloriar-se divinamente daquilo que ele é, ou possui, ou faz.

[...] Em a nova contabilidade (nova forma de interrelacionamento), escriturada segundo o critério de Jesus, a situação muda radicalmente: não existem obras humanas que possam gerar o beneplácito divino ou que possam desencadear a ação de Deus para modificar a conjuntura do mundo.

Tudo o que no mundo ocorre está sujeito ao “NÃO” divino expresso (por Deus) em Jesus, e o mundo é convidado a esperar no “sim” de Deus, também em Jesus.
(Carta aos Romanos, pág. 167 – 168)

Curioso é que o livro de Barth (uma grande heresia para muito dos teólogos conservadores e fundamentalistas) foi escrito no começo do século XX. Quase Cem anos depois, o livro faz denúncias que parecem mais profecias acerca de uma iniqüidade que cresce continuamente nos nossos dias: a iniqüidade de não saber se relacionar com Deus somente pela fé, o que para Barth era idolatria.

É a “simples” questão de não se saber viver pela graça e pela fé dentro de um mundo corrompido, sujeito a inconstâncias e intempéries do desequilíbrio cósmico (o NÃO divino), procurando assim formas de se viver agradável perante Deus de alguma forma, barganhando com Deus nossas qualidades em troca de favores que transformem nossa vida num “mar de rosas”. Barth chama isso de religião, lei e idolatria, e você, do que chamaria isso?

terça-feira, 10 de abril de 2007

PROFECIAS: ADVERTÊNCIAS OU DETERMINAÇÕES? OU NENHUMA DAS DUAS COISAS?


Estou lendo o livro “A Mensagem Secreta de Jesus”, de Brian D. McLaren, que tem como pressuposto básico alguns princípios da Teologia Relacional.


Alguns pensamentos são bem estruturados, até mesmo poéticos, de forma que você se sente bem atraído pela reflexão. Confesso que muitas vezes o “Deus Relacional” me parece fazer mais sentido que o “ortodoxo”, que muitas vezes parece contraditório em si.



Uma das coisas mais importantes que a Teologia Relacional oferece seria um resgate da cosmovisão judaica quanto à leitura da Bíblia e sua compreensão. Compreender a mensagem dentro do pano cultural judaico é importantíssimo, porque ela mesma nasceu dentro dessa cultura, e deve ser percebida dentro dessa influência. A “helenização” da Bíblia e a “constantinalização” da Igreja (Reino de Deus) trouxe muitos problemas, fontes das mais variadas especulações que, na prática, são infrutíferas para o exercício da fé.



O senso de responsabilidade quanto ao Caminho que trilhamos também é algo interessante. Trazer a mentalidade cristã à responsabilidade de colher no futuro aquilo que se planta hoje é algo que se faz urgente, já que a postura mais comum é de simplesmente cruzar os braços e atribuir todos os pormenores que acontecem como sendo obra da “vontade de Deus”. Tal postura é realmente inadequada a mensagem cristã. O pensamento de resgatar a ética e os conteúdos práticos do Reino de Deus são importantíssimos para os dias modernos.



Porém, para se defender a responsabilidade humana nos rumos deste mundo, mexe-se com questões de complexidade tremenda, como a soberania de Deus e as profecias bíblicas. O que fazer com vários textos que mostram Deus, de certa forma, revelando o futuro com uma riqueza de detalhes que nos impede de simplesmente alegorizar?



Um exemplo claro do que estou falando seria o discurso apocalíptico de Jesus nos evangelhos (Mt 24 e 25). Jesus descreve coisas que aconteceram após com riqueza de detalhes. Apesar de a linguagem apocalíptica ser simbólica e se referir sempre a uma literatura de protesto do oprimido, Jesus usou dessa simbologia para mostrar eventos futuros que realmente ocorreram com uma grande dose de literalidade.



Isso significa que Deus determinou esses acontecimentos? As profecias futuras devem ser necessariamente entendidas como determinação da Providência Divina? O fato de Deus revelar fatos futuros implica em dizer que Ele os determinou?



Não sou tão capacitado para responder essas questões, mas creio que Deus pode sim nos mostrar lances do futuro sem que com isso Ele esteja determinando nossas vidas. Acreditar que Deus é tão incapacitado que não possa “prever” (seja lá o sentido de previsão para você) as conseqüências de nossos atos futuros seria limitá-lo a condição de um deus pagão de categoria inferior. Acredito que as profecias e visões têm um caráter de nos advertir, mas nem por isso não podem ser vislumbres do futuro que ainda não bateu nossa porta. E nem por isso elas nos limitam na questão do “livre arbítrio” (até que ponto o nosso arbítrio é realmente livre?).

Se Deus permite que o futuro seja visto como de relance pelas profecias, isso não implica que seu poder de determinar nos coíba em nossas decisões. Deus sempre trabalhou em parceria com sua criação, mas isso não implica necessariamente que ele se limite, como uma espécie de lei intransponível pelo qual Deus se auto-limitou e assim não pode agir soberanamente.

É a velha questão de séculos que vive a bater na nossa porta: Até que ponto nossa liberdade termina e começa a liberdade de Deus, ou onde a liberdade de Deus termina e a nossa começa?

Deus quer trabalhar com o homem, quer construir um mundo com o homem, e faz de tudo para que “seu sonho” seja possível. Os homens devem desejar que “Sua vontade seja feita em suas vidas”, mas nessa parceria “nem tudo são flores”.


O homem se rebela contra a vontade de Deus. Uma “quase que irresistível” inclinação para o orgulho exclui qualquer projeto de Deus para os nossos planos muitas vezes. Não adianta alimentarmos as melhores impressões sobre a humanidade quando a mesma segue sempre por um caminho de erro e destruição.



Sinceramente, acredito que quem estiver lendo possa agora estar me achando um tagarela repetitivo que levanta as questões que muitos já se perguntaram. Concordo com essa opinião, porque esse assunto é realmente repetitivo.



Para mim a maior característica do caráter de Deus é ser equilibrado. O que mais admiro em Deus e o que mais queria possuir como “imagem e semelhança” Dele em mim é essa “utópica” (desculpe se isso soa heresia) condição de um ser em equilíbrio-metamórfico (ou seja, quando pensamos que estamos entendo muita coisa sobre Deus, quando estamos sistematizando-O, Ele quebra nosso entendimento em uma repentina mudança, que nos assusta e nos deixa tontos, sem com isso deixar de ser Deus, pois ele é o equilíbrio entre todas as suas variáveis! Desculpe se eu dei uma “viagem”, mas com Ele, tudo é uma grande “viagem”).


O mesmo que Deus que se “arrepende”, que “volta atrás” em sua opinião, que deseja construir o seu Reino com parcerias, pra mim é o mesmo Deus que salva seu povo por causa da sua graça, e graça é algo que depende exclusivamente de Deus e não da “livre vontade” humana. A graça de Deus atuando neste mundo é maior prova da Soberania de Deus, a qual nem os ortodoxos e nem os relacionais compreendem, pois não foi feita para ser compreendida, mas sim crida.


Leia esses dois versículos como um aperitivo, e como diz o povo do Ceará: “chupa essa manga”!

Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro. (Is 43:25)


Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu proceder para convosco Por amor do meu nome, não segundo os vossos maus caminhos, nem segundo os vossos feitos corruptos, ó casa de Israel, diz o SENHOR Deus. (Ez 20:44)

Jorge

quinta-feira, 5 de abril de 2007

"SANTA" INDIFERENÇA ECOLÓGICA!


Confesso que nunca fui um ecologista ou um “defensor da natureza”, nunca me interessei por esses assuntos, pois, na minha alienação, acredita que não importava o que iria acontecer nessa Terra; o importante é que eu seria arrebatado antes de sofrer na pele as conseqüências da desastrosa atividade humana sobre o meio ambiente. Demorou muito pra “cair à ficha”.

Mas confesso que assistir à televisão ou ler jornais e revistas durante esses meses têm sido um terror pra mim. A notícia que mais corre na mídia é as conseqüências climáticas do aquecimento global. O pior é que as notícias são vividas pra nós, pois já sentimos os efeitos apocalípticos da mudança climática no planeta. Aqui em Fortaleza o calor está cada dia mais insuportável. Os desastres naturais estão mais intensos e começam a ocorrer em lugares que improváveis.

Bate em nós uma sensação de terror com as “previsões” científicas que se assemelham com as narrativas do Apocalipse. Estamos vendo diante dos nossos olhos aquilo que acreditávamos estar longe dos nossos dias.

O que esses sinais estão a nos falar? Não pergunto no sentido de que Cristo esteja voltando, pois todos nós sabemos disso. Mas o que mais esses sinais nos mostram? Pra mim uma coisa fica evidente: esses sinais são um dos vários atestados de que nossa fé fracassou.

O Cristianismo não soube lhe dar com a questão ecológica, não tomou para si a responsabilidade em preservar a natureza devido a, no mínimo, dois motivos básicos:

1. Uma visão estreita sobre salvação. A Igreja não percebe que a salvação não pode ser resumida a uma doutrina que afirma o meu resgate da condenação do inferno pós-morte. A salvação holística ainda é algo desprezado pelo cristianismo da grande maioria. Impressiona que a maioria dos países que degradam a natureza em grande escala são justamente os chamados “cristãos”, e sempre isso ocorre por motivos escusos.

2. Uma visão apocalíptica que despreza a criação. Se o cara é salvo do inferno, se a vida eterna é algo que ele não desfrutará aqui e se Deus derramará juízos que arrasarão a Terra, o que tem haver o cristão com a “defesa do meio ambiente”? O cristão é sempre um mero espectador da destruição do mundo, em uma “santa inércia e indiferença” ele simplesmente não tem preocupação nenhuma com o destino do planeta e nem dos seus habitantes. O que importa é salvar as almas do inferno e louvar a Deus, pois quanto pior a situação estiver, mais próximo Jesus está de voltar.

Sendo assim, nossa negligencia contribuiu muito para o estado precário do nosso planeta. Se a profecia deveria se cumprir e o estado atual da Terra era algo “determinado” pela onisciência de Deus, eu confesso que não sei e nem quero saber. Apenas acredito que a vontade de Deus não era que os cristãos contribuíssem pra isso.

Enquanto eu louvo o Criador eu degrado a criação?

Isso é uma esquizofrenia religiosa sem precedentes!

Enquanto isso, haja calor!

Tenha misericórdia de nós Senhor!

quarta-feira, 4 de abril de 2007

CORAÇÃO INQUIETO

MUITOS CLAMAM A DEUS COM O INTUITO DE ADQUIRIR RIQUEZAS E EVITAR PREJUÍZOS, PELA FELICIDADE TEMPORAL E COISAS SEMELHANTES. RARAMENTE ALGUÉM CLAMA PELO PRÓPRIO DEUS. ASSIM, É FACIL AO HOMEM DESEJAR ALGUMA COISA DE DEUS E NÃO O PRÓPRIO DEUS, COMO SE O QUE ELE DÁ PUDESSE SER MAIS GRATIFICANTE DO QUE ELE MESMO [...]. NADA É MAIS PRAZEROSO, MAIS BELO, MAIS DOCE DO QUE DEUS! [...]. DEUS NOS CRIOU PRA ELE. INQUIETO É O NOSSO CORAÇÃO ATÉ QUE CHEGUE A DESCANSAR NELE!





SANTO AGOSTINHO

segunda-feira, 2 de abril de 2007

QUEM DEUS OUVIU PRIMEIRO?

Ricardo Gondim

No domingo, 26 de dezembro, cantamos Noite Feliz, Noite de Paz. A igreja lotada com cerca de duas mil pessoas, se comovia com o coral de homens e mulheres sorridentes, vestidos de batas prateadas. Celebramos uma autêntica noite de paz. Um holofote de luz azulada se refletia nas roupas colorindo todo o ambiente de uma penumbra bucólica. Apesar do verão em nosso hemisfério, um frio tímido e gostoso nos envolvia, dando a falsa impressão de um natal europeu. Em pé, cantamos que Deus é supremo e afirmamos, de olhos úmidos, que não há outro além do Senhor.

Naquele mesmo momento, na Ásia, os primeiros raios da madrugada da segunda-feira, dia 27, iluminavam o rosto inchado de crianças boiando em charcos de lama. O domingo terminara sem nenhum coral perfilado e sem cultos em nenhuma igreja. Só ressoavam gritos de mulheres, milhares delas, que mesmo acostumadas à miséria, nunca aprenderam a aceitar a morte. Na Índia, Sri Lanka, Tailândia, Indonésia, não houve noite de paz e ninguém “dormiu em derredor”.
Deus ouvia quem? Nosso culto intimista ou o caos asiático? Ele conseguia se manter atento à nossa gratidão pela mesa farta que devoramos dois dias antes, ou se curvava ao clamor dos órfãos do tsunami? Deus percebeu nossos olhos comovidos pelo presépio improvisado por nossos filhos ou atentava ao choro da viúva solitária? Será que o Senhor considerou ridículo o sermão do pastor que naquele momento prometia, um ano novo de prosperidade e que o Todo Poderoso cumpriria os desejos de um auditório egocêntrico? Será que Deus pode ser tão perfeito que consiga separar tão perfeitamente momentos simultâneos?

Não consigo dormir faz três dias. Permaneço em estado de choque pelo que vi. Não esqueço aquela cena das pessoas num ponto de ônibus, agarradas umas às outras, gritando desesperadas por um socorro que não veio. Chorei quando a televisão mostrou o desespero de um pai desmaiado por haver presenciado o resgate do corpo de seu filho de um monturo de lixo. Não me considero um exemplo de sensibilidade, e nem minha empatia pela sorte dos desvalidos serve de modelo para a humanidade. Se eu que sou mau, não consigo continuar impassível diante de cenas tão chocantes, Deus conseguiria?

Admito que esses meus questionamentos não ajudam a dar respostas sobre uma teodicéia convincente. Sei o que os filósofos e teólogos perguntam: “Se Deus é onipotente e bom, como pôde acontecer tamanha tragédia? Se Ele é onipotente e nada fez, resta-nos pensar que não é bom. Se é bom e não tomou nenhuma iniciativa, temos que deduzir que não é onipotente”.
Alguns respondem que na sua providência eterna, Ele sabe o que faz e que seus “atos divinos” não podem ser argüidos por nós, meros vasos de desonra; Deus dá vida e mata quem quiser.

Confesso que já tentei, mas cheguei à conclusão que não há nenhuma força persuasiva no universo que me convença desses argumentos. Não aceito que Deus, para alcançar seu propósito, produza um sofrimento brutal em tanta gente miserável, que não pediu para nascer na beira de uma praia paupérrima. Outros argumentam que Deus não pode ser responsabilizado por um holocausto, pelos simples fato de que não foi Ele quem colocou as pessoas pobres naquela situação de extrema miséria. Esses afirmam que embora Deus já soubesse todos os desdobramentos do terremoto, não fez nada, porque queria manifestar sua glória a um mundo rebelde. Será que a glória de Deus custa tão caro? Meu coração continua insatisfeito.

Acredito que diante duma tragédia dessa magnitude precisamos repensar alguns conceitos teológicos. Por exemplo: o que significa a palavra Soberania; o que se entende por Onipotência? Conceitos como esses significam o quê dentro dos paradigmas das ciências sociais pós-modernas? Será que não estamos insistindo em ler as Escrituras com as mesmas lentes dos medievais? Não projetamos para a Divindade as mesmas idéias que eles nutriam sobre seus reis déspotas?

Estou convencido que a teologia clássica não responde mais às indagações que nascem diante de eventos fortuitos que matam indiscriminadamente; sequer consegue lidar com a aleatoriedade quântica ou com os movimentos despropositais da natureza. Sinto que a mensagem evangélica utilitária e geradora de sentimentos ensimesmados, perdeu seu sentido, mesmo tendo dominado o cristianismo ocidental por séculos.

Admito que não há respostas fáceis. Eu não saberia como consolar os parentes das mais de sessenta mil pessoas mortas – um terço eram crianças. Porém, estou certo que precisamos rever os alicerces em que montávamos nosso edifício teológico.

Hoje sei que Deus não nos criou com o intuito de micro gerenciar todos os nossos atos. Ele não queria que formássemos sistemas religiosos em que O responsabilizaríamos por triunfos e tragédias humanas. Precisamos tomar cuidado quando afirmamos: Deus é amor! O que essa frase significa em relação à Sua ausência misteriosa? Quais as últimas implicações do Seu desejo de se relacionar com a humanidade? A não-onipotência de Jesus Cristo é semelhante à não-onipotência de Jeová?

Só uma réstia da revelação brilha em minha alma: o Deus da Bíblia soberanamente criou o universo, mas ao formar mulheres e homens, abriu mão de sua Soberania para estabelecer relacionamentos verdadeiros. Ele não se despojou de sua natureza onipotente, que por definição não podia fazer, mas se esvaziou de suas prerrogativas divinas – evidenciadas em Jesus Cristo.

Não, Ele não pôde evitar a catástrofe asiática. Assim, sinto que a morte de milhares de pessoas, machucou infinitamente mais o coração de Deus do que o meu – o sofrimento é proporcional ao amor. O pouco que conheço sobre Deus e sobre seu caráter me indica que há muitas lágrimas no céu.

Mas Deus podia e pode se fazer presente no meio da tragédia. Ele podia ter evitado muitas mortes, se déssemos ouvidos aos seus princípios e verdades e a humanidade usasse o dinheiro gasto em armas e bombas para viver num mundo mais justo. Bastava que um sistema de alarme, construído pelos homens, tivesse soado e muitas vidas teriam sido poupadas. Agora, o rosto de Deus se evidenciará nos pés e nas mãos de cada voluntário que acudir aos que choram.
Continuo perplexo diante de tudo o que nos sobreveio e sem todas repostas, mas espero que minhas intuições estejam me conduzindo no rumo certo.

Soli Deo Gloria

O inevitável e aquele outro - Paulo Brabo

Obs: Mais um texto instigante de Paulo Brabo, um dos poucos homens que ainda me levam a refletir na verdade de Deus, pois a maioria que está por aí apenas me faz "des-pensar".


Por Paulo Brabo


Minha intenção em O karma do livre-arbítrio era essencialmente expor a distinção técnica entre dois modos distintos de se pensar sobre determinismo, o científico e o teológico. Com o risco de dissipar a nuvem de mistério que deve acompanhar minha opinião pessoal sobre o assunto, permitam-me acrescentar uns poucos parágrafos a respeito da minha posição.

Será útil que concordemos, antes de tudo, sobre a distinção entre o que está predestinado e o que é inevitável. Segundo o determinismo teológico calvinista, as coisas acontecem de modo inexorável porque foram pré-dispostas pela inteligência de Deus a acontecerem dessa forma precisa; cada momento é previsível porque está predestinado. Para o determinismo científico, por outro lado, nada é conscientemente escolhido pela inteligência divina ou pela nossa. Ao contrário, tudo é rigorosamente fortuito. As coisas são previsíveis não porque exista por trás delas um planejamento prévio, mas porque, dadas as mesmas condições do sistema, aconteceriam inevitavelmente da mesma forma. Cada momento é previsível porque, dentro das variáveis de um sistema simples como o nosso, é inevitável.

Para o determinismo teológico, seremos capazes de prever o futuro sempre que Deus no-lo revelar. Para o científico, poderemos prever o futuro sempre que tivermos um conhecimento adequado das variáveis envolvidas e da relação entre elas.

Para um calvinista estava sim previsto por Deus, desde antes de toda a eternidade, que o Vinicius estaria escrevendo o seu comentário às 15:03 do dia 28 de março de 2007 enquanto tomava tererê na tarde quente de São Paulo. O cientista cognitivo, por outro lado, opinaria que o Vinicius tomava tererê porque estava quente; que escreveu as 15:03 porque não pudera escrever antes; e que era inevitável que alguém com as suas inclinações e bagagem de experiências acabasse se pronunciando sobre o assunto, e precisamente da forma como fez.

Dito isto, posso afirmar que creio muito mais no conceito de inevitabilidade do que no de predestinação, na forma como os expusemos aqui. Penso estar claro que o mundo vive debaixo da sombra da inevitabilidade. Dado o universo ser como é, as leis da física serem como são e os seres humanos serem de carne como são, o mundo da nossa experiência não tinha como ser diferente. São inevitáveis as coisas que sabemos que nos matam: as injustiças, os assassinatos, os roubos, as invejas, as cobiças, os capitalismos e as guerras. São inevitáveis as coisas que cremos que nos redimem: as gentilezas seletivas, as bondades direcionadas, a proteção dos amigos, o corporativismo entre semelhantes, os preconceitos e as preferências – coisas que, naturalmente, acabam patrocinando todas as injustiças mencionadas no item anterior. Não há predestinação nisso e ela é mesmo desnecessária.

Não é preciso predestinação para que Caim mate Abel, para que Isaque prefira Jacó, para que Jacó prefira José, para que José seja vendido pelos irmãos. Não é preciso predestinação para que tudo dê errado.

Não é preciso predestinação para que Caim mate Abel.

Minha postura sobre a predestinação está ligada precisamente a esta relação do ser humano com o que inevitável. Com Tolkien e Jacques Ellul, penso que a característica mais curiosa da nossa condição (e o mais convincente indicador da existência de Deus ou de algo que o valha) está em que “o ser humano pode sempre colocar em andamento eventos além daqueles que parecem inevitáveis”.

Creio que se como seres humanos somos predestinados a alguma coisa, é a fazer frente à grossa maré da inevitabilidade que tolhe os nossos movimentos e os de todos à nossa volta. Havendo um Deus, esse nos chamou a todos e a cada um para afundarmos nesse mundo de forma positiva, gerando soluções criativas (e em grande parte paliativas) para o velho problema do que não pode ser evitado. Quando lutamos contra a eloqüência do inevitável estamos fazendo aquilo para que somos escolhidos e predestinados; quando não, escolhemos nos conformar a este simulacro de vida, inteiramente esvaziados do espírito criativo do destemor de Deus.

Ecos desse chamado e da singularidade dos que o ouvem aparecem nas lendas de todas as culturas: o herói é invariavelmente chamado para deter o que não pode ser detido. Ele pode ser pequeno, despreparado e insignificante, mas sua singularidade está em levantar-se contra a maré; essa é em muitos sentidos a sua vitória, sua única vitória. E os heróis nos fascinam porque sentimos que é dessa forma que poderíamos – que deveríamos estar vivendo.

O Sermão do Monte, a história de Gandhi e a vida de Madre Teresa são testemunhos eloqüentes da possibilidade de uma vida postada conscientemente contra a torrente da inevitabilidade. E são, ao mesmo tempo, exemplo da quase completa futilidade desses esforços. Todos esses “lutaram contra a carne”, isto é, lutaram contra as paralisantes limitações inerentes à condição humana, mas não conquistaram muita carne além da sua. Tanto Jesus quanto Gandhi e Madre Teresa deixaram poucos discípulos no que diz respeito ao seu despejo em enfrentar o inexorável.

Não há naturalmente mérito em limitarmo-nos ao sabor do inevitável. Sendo o Brabo quem é, seria inevitável que ele levantasse esta Bacia e depositasse nela este tipo de coisa. Será porém inevitável que eu coloque em prática alguma coisa do que recomendo? De modo algum. Isso requeriria uma estirpe de coragem que não tenho e não quero ter.

No que me diz respeito não há história que reflita mais claramente a glória e os perigos desse trajeto do que o ciclo O Senhor dos Anéis, de Tolkien. A trilogia dá testemunho do trajeto de uns poucos heróis em sua luta contra a inevitabilidade. É inevitável que o Anel do Poder produza algum estrago no universo. É inevitável que Frodo seja contaminado pela posse do Anel. É inevitável que sejamos irremediavelmente contaminados pela existência. É inevitável que sejamos traídos e abandonados por um obsceno número de aliados. É inevitável que tenhamos de encarar de frente a morte, e que a esperança seja encarada, até por nós mesmos, como tolice. É inevitável que a eternidade seja maculada pela amargura que nos marcou a ferro e fogo. Mas quando houver glória, quando houver coragem, quando houver lealdade – ah, essa será como uma estrela resplandecendo na mais impensável escuridão.

QUAL A PROSPERIDADE DO CRISTÃO?


Ontem estava ouvindo a mensagem na Igreja sobre o que seria a verdadeira prosperidade bíblica. Percebi que nós ainda temos que discutir isso devido a muitos não compreenderem o conceito de prosperidade. Se lêssemos a Bíblia com mais atenção acredito que não precisaríamos mais discutir coisas do gênero.

Mas já que ainda há nuvens acerca desse tema controvertido, gostaria de colocar aqui algumas coisas que penso acerca de prosperidade:

Primeiramente, a prosperidade tal qual conhecemos é uma doutrina que une versículos bíblicos descontextualizados com o espírito capitalista do ter e do ser bem sucedido. O cristão hoje discute a prosperidade pelo fato dele viver num mundo onde o sinal do sucesso é ganhar dinheiro e ser reconhecido pelos demais dessa forma. A teologia da prosperidade é uma resposta que apóia o espírito capitalista e tenta aliá-lo a uma falsa espiritualidade.

A base bíblica da TP está totalmente ligada ao Antigo Testamento. 90% das pregações e livros lançados seguem o pensamento de que as promessas dadas a Israel acerca da prosperidade são transferidas imediatamente para a igreja, e que devem ser vividas hoje na nossa vida.

Tenho uma outra forma de perceber a relação entre Deus e Israel, e que é obvio era uma relação um tanto “diferente” da que Ele tem hoje com sua Igreja. Israel vivia entre povos que se relacionavam com suas divindades na base do medo e da barganha. O Senhor se diferenciava dos deuses pagãos por abençoar seu povo sem que eles tenham que o adorar da forma pagã. Era um dos sinais de Deus para que pudesse haver diferença entre o culto ao Deus Verdadeiro e o dos falsos deuses.

Talvez meu argumento não convença muito, mas percebo que o agir de Deus é pedagógico, visando ensinar a todos. A benção da prosperidade sobre Israel não indica que Deus faça acepção de pessoas ou que ele mesmo queira se relacionar com os seus filhos na base do troca-troca. Acredito que Deus não busca corações de negociadores, mas corações quebrantados e contritos, que o adorem verdadeiramente (Sl 51:17). Israel deveria servir de candeia para todos os povos, para sinalizar o projeto de Deus sobre a humanidade, por isso acredito na benção de Deus sobre Israel dentro do mesmo enfoque.

O Novo Testamento traz uma outra visão acerca da prosperidade material. Não há base bíblica suficiente, e nem mesmo uma única palavra favorável de Cristo quanto à questão das posses materiais. São vários os textos acerca disso, porém o que mais me chama atenção é o Sermão da Montanha:


E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que pelo muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem (Mt 6:7-8).


Quem faz do culto e da oração uma repetição de pedidos, de desejos, de sonhos de consumo, quem busca Deus para ganhar, para receber, está tendo com ele uma relação pagã, interesseira e mediatista. A prosperidade está na confiança de que Deus conhece nossas necessidades e nos supre naquilo que precisamos, nos dá o sustento, e isso precisa ser entendido por nós hoje. Prosperidade no caminho de Cristo é crescer a imagem de Jesus e ser confiante no amor e no cuidado de Deus pelo seu povo. Isso não tem nada haver com dinheiro, bens, saúde ou sucesso.

A Teologia da Prosperidade como a temos hoje é sinônimo de Paganismo.