terça-feira, 10 de abril de 2007

PROFECIAS: ADVERTÊNCIAS OU DETERMINAÇÕES? OU NENHUMA DAS DUAS COISAS?


Estou lendo o livro “A Mensagem Secreta de Jesus”, de Brian D. McLaren, que tem como pressuposto básico alguns princípios da Teologia Relacional.


Alguns pensamentos são bem estruturados, até mesmo poéticos, de forma que você se sente bem atraído pela reflexão. Confesso que muitas vezes o “Deus Relacional” me parece fazer mais sentido que o “ortodoxo”, que muitas vezes parece contraditório em si.



Uma das coisas mais importantes que a Teologia Relacional oferece seria um resgate da cosmovisão judaica quanto à leitura da Bíblia e sua compreensão. Compreender a mensagem dentro do pano cultural judaico é importantíssimo, porque ela mesma nasceu dentro dessa cultura, e deve ser percebida dentro dessa influência. A “helenização” da Bíblia e a “constantinalização” da Igreja (Reino de Deus) trouxe muitos problemas, fontes das mais variadas especulações que, na prática, são infrutíferas para o exercício da fé.



O senso de responsabilidade quanto ao Caminho que trilhamos também é algo interessante. Trazer a mentalidade cristã à responsabilidade de colher no futuro aquilo que se planta hoje é algo que se faz urgente, já que a postura mais comum é de simplesmente cruzar os braços e atribuir todos os pormenores que acontecem como sendo obra da “vontade de Deus”. Tal postura é realmente inadequada a mensagem cristã. O pensamento de resgatar a ética e os conteúdos práticos do Reino de Deus são importantíssimos para os dias modernos.



Porém, para se defender a responsabilidade humana nos rumos deste mundo, mexe-se com questões de complexidade tremenda, como a soberania de Deus e as profecias bíblicas. O que fazer com vários textos que mostram Deus, de certa forma, revelando o futuro com uma riqueza de detalhes que nos impede de simplesmente alegorizar?



Um exemplo claro do que estou falando seria o discurso apocalíptico de Jesus nos evangelhos (Mt 24 e 25). Jesus descreve coisas que aconteceram após com riqueza de detalhes. Apesar de a linguagem apocalíptica ser simbólica e se referir sempre a uma literatura de protesto do oprimido, Jesus usou dessa simbologia para mostrar eventos futuros que realmente ocorreram com uma grande dose de literalidade.



Isso significa que Deus determinou esses acontecimentos? As profecias futuras devem ser necessariamente entendidas como determinação da Providência Divina? O fato de Deus revelar fatos futuros implica em dizer que Ele os determinou?



Não sou tão capacitado para responder essas questões, mas creio que Deus pode sim nos mostrar lances do futuro sem que com isso Ele esteja determinando nossas vidas. Acreditar que Deus é tão incapacitado que não possa “prever” (seja lá o sentido de previsão para você) as conseqüências de nossos atos futuros seria limitá-lo a condição de um deus pagão de categoria inferior. Acredito que as profecias e visões têm um caráter de nos advertir, mas nem por isso não podem ser vislumbres do futuro que ainda não bateu nossa porta. E nem por isso elas nos limitam na questão do “livre arbítrio” (até que ponto o nosso arbítrio é realmente livre?).

Se Deus permite que o futuro seja visto como de relance pelas profecias, isso não implica que seu poder de determinar nos coíba em nossas decisões. Deus sempre trabalhou em parceria com sua criação, mas isso não implica necessariamente que ele se limite, como uma espécie de lei intransponível pelo qual Deus se auto-limitou e assim não pode agir soberanamente.

É a velha questão de séculos que vive a bater na nossa porta: Até que ponto nossa liberdade termina e começa a liberdade de Deus, ou onde a liberdade de Deus termina e a nossa começa?

Deus quer trabalhar com o homem, quer construir um mundo com o homem, e faz de tudo para que “seu sonho” seja possível. Os homens devem desejar que “Sua vontade seja feita em suas vidas”, mas nessa parceria “nem tudo são flores”.


O homem se rebela contra a vontade de Deus. Uma “quase que irresistível” inclinação para o orgulho exclui qualquer projeto de Deus para os nossos planos muitas vezes. Não adianta alimentarmos as melhores impressões sobre a humanidade quando a mesma segue sempre por um caminho de erro e destruição.



Sinceramente, acredito que quem estiver lendo possa agora estar me achando um tagarela repetitivo que levanta as questões que muitos já se perguntaram. Concordo com essa opinião, porque esse assunto é realmente repetitivo.



Para mim a maior característica do caráter de Deus é ser equilibrado. O que mais admiro em Deus e o que mais queria possuir como “imagem e semelhança” Dele em mim é essa “utópica” (desculpe se isso soa heresia) condição de um ser em equilíbrio-metamórfico (ou seja, quando pensamos que estamos entendo muita coisa sobre Deus, quando estamos sistematizando-O, Ele quebra nosso entendimento em uma repentina mudança, que nos assusta e nos deixa tontos, sem com isso deixar de ser Deus, pois ele é o equilíbrio entre todas as suas variáveis! Desculpe se eu dei uma “viagem”, mas com Ele, tudo é uma grande “viagem”).


O mesmo que Deus que se “arrepende”, que “volta atrás” em sua opinião, que deseja construir o seu Reino com parcerias, pra mim é o mesmo Deus que salva seu povo por causa da sua graça, e graça é algo que depende exclusivamente de Deus e não da “livre vontade” humana. A graça de Deus atuando neste mundo é maior prova da Soberania de Deus, a qual nem os ortodoxos e nem os relacionais compreendem, pois não foi feita para ser compreendida, mas sim crida.


Leia esses dois versículos como um aperitivo, e como diz o povo do Ceará: “chupa essa manga”!

Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro. (Is 43:25)


Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu proceder para convosco Por amor do meu nome, não segundo os vossos maus caminhos, nem segundo os vossos feitos corruptos, ó casa de Israel, diz o SENHOR Deus. (Ez 20:44)

Jorge

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