quinta-feira, 1 de março de 2007

MAQUIAVELISMO E IGREJA – CONCLUSÕES PESSOAIS SOBRE A PALESTRA DO PR. ELIENAI JR.

Recentemente tivemos um seminário importante na Betesda sobre a influência do poder segundo o maquiavelismo em nossas instituições evangélicas. Quero aqui parabenizar o Pr. Elienai Jr. pela brilhante exposição.

O poder, na visão do livro “O Príncipe”, de Maquiavel, seria o exercício de suprimir a liberdade do outro em benefício da manutenção de nossa vontade dobre ela, ou seja: dominar os demais para que sigam nossas determinações como líderes. Sendo assim, os pilares do poder em Maquiavel estão na arte de conquistar, consolidar (perpetuar) e expandir o domínio (qualquer semelhança com as formas de evangelismo-proselitismo praticadas através dos tempos pela instituição não é mera coincidência).

O poder segundo Maquiavel seria apenas a radiografia “nua e crua” de nossa condição de pecado. “A chance de não exercer poder seria a mesma de não pecar!” colocou o Pr. Elienai Jr., Gerando um misto de revolta e desespero em nós. Parece que estamos fadados a tornas nossas relações em disputas de exercício de poder. Nessas disputas estão o nascedouro da Institucionalização dos “do Caminho”.

Sendo assim, precisamos primeiro entender umas coisas: A igreja não começou a praticar o poder a partir da obra de Maquiavel. Ela já maquiavélica desde seu nascimento! Jesus já lutava contra esse Maquiavelismo no seio de seu grupo apostólico. Vem-me a memória agora aquele texto em que Salomé pede para que seus dois filhos tenham assento especial junto a Cristo no Reino Messiânico (Mt 20:20). A noção de reino e de “assento” na cabeça de Salomé e dos apóstolos está completamente ligada ao exercício de poder sobre os “menores”. Então Jesus precisa afirmar:

Então Jesus chamou todos para perto de si e disse: - Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles, e os poderosos mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de vocês. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. (Mt 20:25-28)

Todo domínio, “cobertura espiritual” ou pretensão de hierarquizar as relações que entres os discípulos deveriam ser unicamente horizontais, guarda em si o veneno do poder descrito por Maquiavel e que habita latente em nossa natureza pecaminosa. Essa postura que está nos primórdios do movimento cristão não pode e nem deve ser romantizada ou espiritualizada. Deve sim ser encarada e renunciada com maturidade.

Interessante que ao falarmos isso, muitos pensam: “mas se assim for estaremos propondo o fim das denominações, das igrejas tal qual as conhecemos. As pessoas precisam de lideres, de homens com ‘autoridade para conduzir o rebanho do senhor’, conseqüentemente, as pessoas também precisam das instituições, como ‘guias do seu caminho até o céu’”. Os termos autoridade, rebanho e guia já transmitem uma idéia de poder maquiavélico.

Arrisco-me a afirmar que até mesmo a forma como encaramos a Bíblia e as “doutrinas cristãs” são uma fonte inesgotável de poder maquiavélico sobre as pessoas. Oprimimos, infantilizamos e geramos dependência das pessoas aos seus líderes e igrejas de tal forma que as desviamos da verdadeira fé em Cristo. Por mais que isso venha ser sutil e que habite os recônditos da alma religiosa, escondida nas melhores intenções possíveis, ainda sim precisa ser encara e combatida por nós.

Não quero sair com um gosto que essa condição que experimentamos hoje seja fatalista e impossível de reverter. Acredito que não tem como reverter à situação da instituição, ela é irrecuperável, na sua constituição está o DNA de Constantino e de seu “maquiavelismo romano”. Não seria então o caso de uma nova reforma, pois reforma apenas dá uma nova aparência ao que é sempre velho.

A esperança habita em vinhos novos e odres novos (Mt 9:17). O Evangelho e o “poder” (termo bastante inapropriado) que ele delega deve habitar novos espaços, estes são os espaços da nossa existência, do nosso ser, do nosso coração. O Evangelho não pode mais ser comparado as nossas instituições religiosas, não pode mais habitar ensinos congelados e narrativas que em nada influenciam nossas vidas.

De tal forma, precisamos aprender que o carisma-poder de Deus é o do amor, o da renuncia, o do esvaziamento de si, o do caminhar, o da liberdade de desfrutar da vida em Cristo. Dependência de instituição, cultos, pastores-líderes, ministérios e “xaamãs” evangélicos são puro encabrestamento daqueles que são por nova natureza filhos da liberdade.

Odres novos não são novas instituições, novos agrupamentos ou clubes religiosos onde se “detém” a verdade. São sim novas consciências formadas por Cristo e sua revelação do Pai. Sendo assim, tal condição exige liberdade, pois qualquer tentativa de detenção da verdade e da adoração a um lugar ou uma condição de autoridade descaracteriza a própria verdade que habitaria em nós.

Reúnam-se, mas não se institucionalizem!

Adorem, mas com suas vidas!

Pensem, com a mente de Cristo, e não como débeis da letra e do poder!

Leiam a Bíblia, mas não a petrifiquem como edifício único da verdade e da revelação de Deus, pois Deus fala em Cristo e na sua multiforme graça!

Vivam, mas somente na Graça!



Pensemos nisso!


Jorge Luiz Lima Chaves, Betesda Lagoa Redonda

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