quinta-feira, 8 de março de 2007

A VAIDADE DA PERMANÊNCIA

Certa vez estava conversando com um pastor amigo meu sobre aquilo que arde nos corações daqueles chamados depreciativamente de "críticos da igreja". Falava da percepção que em muitas pessoas já evidente, sobre o franco declínio das instituições evangélicas.

No meio da conversa ele soltou uma máxima que deixa triste qualquer um que ainda tenha esperança em tempos melhores: - “Bem, tenho certeza do que creio, não abrirei mão da minha fé, permanecerei nela até o fim!”. Aos que lêem isso podem achar que isso é um exemplo de perseverança. Porém não vejo assim.

Pessoas que afirmam isso apenas querem dizer que não abriram mão dos seus dogmas, das suas verdades absolutas, e que continuaram vendo o mundo com “viseiras de cavalo”. Pessoas assim acham que se questionarem; um pouco que seja, daquilo que eles aprenderam como verdade; estarão se desviando da fé em Cristo e assim serão destinados ao inferno.

Elas se orgulham; se envaidecem, por poderem afirmar que estão na verdade. Aqui já está um grande erro: verdade que gera vaidade, sentimento de superioridade e auto-suficiência já não pode ser a Verdade.

A Verdade, ou o Verdadeiro, é humilde e ao mesmo tempo um revolucionário. Ele ousou pensar sua religião de uma forma diferente; ousou quebrar dogmas; ousou reconstruir a visão judaica do messias. Ele ousou não permanecer preso às vaidades dogmáticas que não expressam a Verdade.

É nesse sentido que Jesus afirma: “Errais, não conhecendo as escrituras, e nem o poder de Deus”. Todo aquele que não entende que as Escrituras são dinamizadas pelo poder de Deus através do Espírito Santo, apenas se fecha em seus dogmas e pré-conceitos.

As Escrituras não são um dogma, mas um canal pelo qual a Verdade se revela. Como canal, ela deve ser lida de forma dinâmica, renovável, e sempre nos levando à novas descobertas. A Bíblia está a serviço da igreja, ela surgiu pela necessidade do povo de Deus, sem assim, ela deve se adaptar aos tempos e suas contingências.

Tenho a impressão de que aqueles que se fecham em suas verdades; em defesa da “sã doutrina” (entenda-se como “são dogma”!) podem ser comparados aos fariseus e saduceus, que começaram bem, mas terminaram mal, por simplesmente perderem a capacidade de perceber o agir de Deus fora das suas verdades. Seus conceitos entupiram seus sentidos e eles não conseguem enxergar nada que não se encaixe a eles.

Jesus fala em João 8:43 que os fariseus não compreendiam sua linguagem que era clara, pois era a verdade, e eles estavam presos na mentira. Até que ponto isso se cumpre hoje? Hoje as palavras de Jesus estão difíceis de entender, por quê? Serão mesmo as palavras de Jesus?

“Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, já dizia o Raul. Os metamórficos são mais sensíveis para perceber a multiforme graça de Deus que se revela de forma livre em nosso meio. Essa revelação não está presa a dogmas, a conceitos ou até mesmo a Bíblia.


Aos ouvidos dos sensíveis de coração!


Jorge

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