terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um Pentecostes que resulta em Igreja – Atos 2

No que resultou nosso pentecostalismo? Quais foram os resultados práticos sobre a Igreja do início do século XX advindos da experiência chamada “pentecostal”, ou o “Batismo no Espírito Santo”?

Essa pergunta não é nova; e muitos já propuseram respostas, sejam elas pejorativas ou não ao movimento pentecostal. Não desejo ser mais uma voz negativa, porém, a ler e reler durante esses sete anos de “crente” sobre o evento que aconteceu no dia de pentecostes narrado no livro de Atos dos Apóstolos, eu percebo em muitos pontos que aquele evento não é pentecostal como nos moldes contemporâneos.

Tenho mania de me explicar antes de entrar no texto em si, mas desejo apenas informar aos meus leitores que há muito tempo perdi aquela visão romântica que diz ser a Igreja Primitiva “a igreja verdadeira”. Estou mais para Nietzsche, que afirmava ser Jesus Cristo o único cristão que realmente existiu. Não alimento utopias acerca da comunidade dos apóstolos; mas que existe diferenças entre nós e os nossos pais, infelizmente existem, e são grandes.

Identifico algumas coisa na experiência “pentecostal” primitiva as quais não possuem muito paralelo com os dias de hoje:

1. O evento do Batismo com o Espirito Santo não era o fim em si mesmo. Se ligarmos a promessa de Jesus no capítulo um de Atos com o evento ocorrido no dia de Pentecostes, poderemos entender que toda aquela manifestação espiritual era simbólica. Não entenda “simbólica” no sentido de irreal, mas como “carregado de significado”.

Jesus disse: “... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Ou seja: o poder do Espírito seria o motor para que o Evangelho fosse anunciado a todo o mundo, aonde houver gente. Sendo assim, o símbolo dessa capacitação espiritual missionária foi a manifestação da glossolalia, o falar em outras línguas, pois tal experiência fala sobre a unificação da mensagem cristã a todos o povos, a reconciliação de Deus com o mundo através da mensagem cristã, que agora alcançaria a todas as línguas e culturas diferentes. Nota-se que aqueles que ouviam as línguas faladas pelos cristãos ali presentes, entendiam em seu próprio idioma o que eles falavam acerca das maravilhas de Deus,

O que venho a afirmar então é que o falar em línguas é um símbolo que Deus escolheu para revelar essa capacitação missionária da igreja que estava nascendo. Hoje em dia exaltamos o falar em línguas, e tais línguas se tornaram realmente estranhas, pois tal dom não é mais fator de unificação entre os povos, mas de uma arrogante superioridade espiritual acompanhado de uma completa indiferença ao chamado missionário de ser cristão e anunciar o evangelho a todas as línguas. Nossa “experiência pentecostal” é um fim em si mesmo, e este fim é simplesmente exibir uma suposta autoridade espiritual. Nota-se que aqueles que ouviam as línguas faladas pelos cristãos ali presentes entendiam em seu próprio idioma o que eles falavam acerca das maravilhas de Deus (At. 2:11). Porém, o pentecostalismo moderno profere uma linguagem e um evangelho tão estranho que não gera cristãos autênticos, mas “crentes” tão mais estranhos quanto suas línguas.


2. O evento do Batismo com o Espirito Santo gerou uma pregação cristocêntrica. O sermão de Pedro, logo após a euforia da manifestação espiritual, tem Cristo como o centro e como a razão da História. Pedro não só fala de Jesus, mas consegue declarar que Jesus é o centro da história. Na mentalidade de Pedro, a morte de Jesus, causada por homens, foi substituida pela ressurreição, que é obra de Deus, e que findará na consumação dos tempos e sua volta triunfante como Messias, que já comecou. Jesus é o centro da mensagem de Pedro e dos apóstolos posteriores.

A mensagem pentecostal moderna não tem Cristo como o centro, mas sim a igreja, as leis eclesiásticas e a manipulação do sobrenatural redundante em benefícios no mundo natural. O movimento pentecostal e o seu filhote, o neo-pentecostalismo, gerou grandes deturpações à mensagem original. Falamos sobre a importância da igreja para a salvação, do legalismo para sermos “diferentes do mundo”, e do poder Espiritual para manipular a esfera natural da vida, num processo sempre alienatório. Esse centro da mensagem pentecostal moderna é incompátivel com a proposta e com o carater de Cristo e da sua mensagem. O evento que aconteceu no Pentecostes fala de unificação, de quebra de barreiras que nos diferenciam, fala de que salvação somente em Cristo e pela Graça, fala de poder para anunciar o Reino.

3. O evento do Batismo com o Espirito Santo gerou uma igreja baseada na comunhão. Quando Lucas fala sobre a comunidade cristã que nasceu depois do evento de Pentecostes, ele cita uma comunidade sem defeitos, e sabemos que isso não existe. Lucas não é um historiador imparcial, mas ele destaca algumas qualidades daquela igreja nascente que são fruto do significado de ser uma comunidade para fora, uma comunidade “de línguas”.
Nota-se que das quatro qualidades destacadas por Lucas, três são qualidades coletivas, que dependem da união e da comunhão entres os cristãos. O que mais me chama atencao é que a experiência pentecostal primitiva gerou uma igreja tão comprometida com o próximo e altruista que Lucas fala dela sempre no coletivo.

A experiência pentecostal moderna infelizmente não caminha pelo mesmo trilho. Ao contrário, o individualismo cresce neste meio, clamufado com palavras vazias de comunhão. O poder e a prosperidade estimulam as reuniões e orações em grupo, e a divisão de bens segundo a necessidade nao é o nosso forte.

Por isso afirmo que não podemos usar o texto de Atos para alicercar e respaldar a experiência pentecostal moderna. Ela não tem ligação direta ou indireta com a manifestação espiritual primitiva, pois não gera igreja no verdadeiro sentido evangélico. Portanto, precisamos repensar e reavaliar este nosso tão estranho pentecostalismo.

E que Deus nos abençõe!

2 comentários:

Unknown disse...

Jorge,dei uma olhadinha no seu blog,não sei bem como enviar uma mensagem pra você,rs
Mas quero dizer que este blog está muito legal,eu gostei,que Deus continue a te abençoar,vc e a Paulinha,que voces sejam sempre instrumentos nas mãos do Senhor!Paz,bjs,Dri da Betesda

Anônimo disse...

Caro amigo e irmão em Cristo. Venho felicitá-lo pela coragem e clareza no entendimento deste texto bíblico tão bonito e significativo para o cristão. Infelizmente concorco contigo que o Pentecostalismo hoje perdeu o sentido cristocentrico de atos para vir a ser antropocentrico, no sentido de que aquele que supostamente fala em línguas torna-se um cristão mais. Creio que 1 Coríntios 12 e 14 nos dão mais uma lição interessante nesta questão.
abraços e bênçãos de Deus.
Pr José Daniel Steimetz - Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
OBS. Encontrei teu blog procurando algo relativo as linguas "estranhas" em atos 2. Fico grato a Deus por ter encontrado teu artigo.