quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Nem todo final é feliz




Ontem passou na TV o filme Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood, e este é um daqueles filmes que te faz ir para cama indignado com o final.

Não estou dizendo que o filme é ruim, pelo contrário, é maravilhoso e faz jus as premiações que recebeu (4 Oscars e 2 Globos de Ouro). O filme é um drama profundo e cheio de detalhes difíceis de perceber.

Não pretendo contar o filme, até porque você que está me lendo neste momento pode não ter assistido; mas é inevitável não citar o final do filme, que mais mexeu comigo.

Frank é o treinador de boxe de Maggie, uma grande revelação do boxe feminino na categoria meio-médio. Porém, ao lutar com a campeã da categoria, uma lutadora desonesta, ela leva um soco mesmo após ter finalizado o round e acaba tendo a coluna fraturada na altura do pescoço. Resultado: ficou tetraplégica, nem mesmo a cabeça poderia mais mover.

Ela sente que sua vida terminou, que foi até onde poderia ter ido, e que não há mais o que fazer. Para alguém que alcançou uma carreira meteórica, realizou-se naquilo que almejava, viver numa cama de hospital respirando por aparelhos seria pior do que a morte, seria ver que sua vida não chegou a resultado nenhum.

Ela então pede para que Frank desligue os aparelhos e termine com o sofrimento dela, e no final do filme e realmente isso que ele faz. Existe toda a polêmica da Eutanásia por trás desse final, ficando no ar a pergunta: Vale a pena prolongar a vida à custa do sofrimento físico, psicológico e emocional da pessoa?

Porém, não é só a questão da morte que faz o filme. O que me deixou inquieto e ver que o filme não tem um “final feliz”. Aliás, a vida dos personagens não é nada feliz. Maggie tem uma família que só pensa no seu dinheiro e Frank tem uma filha que não dá a menor importância ao pai. Existem amarguras, arrependimentos e frustrações permeando o filme a todo o momento. Não é um daqueles dramas que “só acontecem em filmes”, mas são problemas e decisões reais, que fazem parte da vida de muitos outros.

Ficou então mais claro para mim que não sei lhe dar com a vida se ela não tiver “final feliz”. A vida sempre precisa “dar certo”, deve “funcionar bem”. É difícil aceitar que as coisas não vão sempre ser bem resolvidas e que nem tudo vai terminar bem. Cada expectador daquele filme certamente queria ver aquela menina se recuperando, levantando-se daquela cama e contrariando todas as declarações médicas sobre seu estado. Mas não foi bem assim, e a vida realmente não é bem assim.

Não sabemos lhe dar com as intempéries, com as dificuldades, com a morte. Confesso meu total despreparo diante de situações extremas. Não consigo aceitar que existem momentos em que temos que escolher a morte como a melhor opção, meu discernimento ainda não alcançou elevado nível. Não consigo entender a dor e o sofrimento como parte de um plano para minha vida.

Por isso o filme me deixou indignado, queria ver aquela menina se levantando, quem sabe o filme pudesse falar de um milagre sobrenatural onde a coluna dela ficasse sã e ela voltasse a lutar. Isso mostra como estou: “com a boca escancarada, cheia de dentes”, olhando para o céu em busca do milagre que faça mudar minha situação difícil. Desejamos o milagre que leve a um final feliz; mas talvez precisamos ver “milagres” onde o final não é tão feliz.

Só fica uma conclusão pra mim: preciso conciliar em mim a vida como ela é e a vida como ela deveria ser na minha concepção. Será que posso?

Um comentário:

Italo Colares disse...

Realmente amigo Jorge, é um excelente filme!
Sugiro outro: Crash, no limite!