segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O Controle Remoto do nosso Universo


Click, um filme estrelado por Adam Sandler, se propõe ser uma comédia, mas para os sensíveis e reflexivos, ele pode fazer mais é chorar e repensar muitas de nossas posturas.

Sandler é Michael Newman, um arquiteto promissor, mas que para subir na vida profissional tinha que paparicar o chefe em todas as vontades ao ponto de colocar sua família sempre em segundo plano. Ele nunca tinha tempo para sair, assistir as provas de natação, construir a casa na árvore... Enfim, não havia tempo pra mais nada a não ser trabalhar, trabalhar e trabalhar.

Seu objetivo era ser promovido na empresa, para que assim tivesse mais tempo pra família. Porém, ele não consegue conciliar a pressão da família e do trabalho. Certa noite, cansado do trabalho e frustrado por não conseguir distinguir qual dos inúmeros controles remotos ligava a televisão, ele vai para uma loja a procura de um controle remoto universal.

Então um vendedor excêntrico, na verdade o anjo da morte, chamado Morty (Christopher Walken) dá de presente a ele um controle remoto capaz de controlar toda a sua vida. Para Michael era a grande solução para seus problemas. Com o controle, Michael podia “pausar” as pessoas, colocar qualquer um no modo “mute”, avançar cenas do seu cotidiano, tudo para que ele ganhe mais tempo e se esforce menos para sua promoção.

Ele então avança um ano de sua vida para conseguir chegar logo a tão desejada promoção. Porém, o controle remoto se auto-programa e assim passa a avançar a vida de Michael em todos os momentos que ele pulava. Não dá outra, ele passa por crise no casamento, divorcia-se, não desfruta do crescimento dos filhos, envelhece e não consegue parar a correria de sua vida provocada pelo controle remoto.

Somente nos minutos finais da sua vida Michael consegue mostrar para seus filhos e sua esposa que o mais importante é a família. Mas como todo o filme, tudo não passou de um sonho e ao acordar ele compreende que tinha conseguido uma nova chance de refazer os trilhos da sua vida.

Mas a vida real não é um filme e as conseqüências de nossas escolhas não passa como um sonho. Não é sempre que temos a chance de recomeçar do zero.

A grande mensagem do filme é para que saibamos priorizar aquilo que é importante, e nada mais importante do que a família. A “tirania da urgência” a qual vivemos hoje nos faz priorizar o trabalho, o sucesso, o dinheiro. Tais prioridades sempre nos levam a:

1. Criar ilusões quanto aos nossos verdadeiros objetivos. Michael vivia dizendo para si mesmo que era só ser promovido para que ele pudesse separar tempo para sua família. Mas uma promoção implica em sonhar com outra promoção, porque enfim precisamos sempre ganhar mais dinheiro para promover uma “boa vida” a nossa família. Subir na vida profissional sempre implica em mais trabalho, mais compromisso e menos tempo. Acreditamos estar lutando pelos objetivos certos, mas alimentamos sempre ilusões quanto aos objetivos de nossa luta. Viver, na ótica do filme, não é saber separar tempo pra tudo, pois isso é humanamente impossível, mas sim saber dar prioridade ao que é realmente importante.

2. Viver em “piloto automático”. Lutar para se dividir em vários pedaços, dar atenção a todos e a tudo, apenas nos faz viver a vida de forma superficial. Michael fez até mesmo do momento mais íntimo de seu casamento com sua mulher um momento que merecia ser “acelerado” para que ele pudesse ter tempo para trabalhar. Mas intimidade que não gasta tempo é descartável, e sendo assim, a vida se torna superficial. Aceleramos nossa vida quando simplesmente não damos atenção aos pequenos momentos; é como estar presente em corpo, mas não em alma e espírito. No filme isso era chamado de “piloto automático”, um estado de total insensibilidade quanto os verdadeiros momentos da vida.

3. Estarmos sempre insatisfeitos. Começamos então a perceber que o mundo cai a nossa volta, a insensibilidade vai minando as relações, quebrando os laços que dão sentido ao caminhar juntos. Sendo assim, a insatisfação agora não é profissional, mas familiar e relacional, e para tal crise, não existe promoção profissional. A vida agora passa sempre em automático e perdemos o controle dela na ilusão de que éramos os donos de nossas próprias decisões.

O filme é um chamado para que sejamos mais conscientes de nossas decisões. Cuidado, sua vida pode estar passando em “piloto automático”.

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