sexta-feira, 26 de outubro de 2007

IGREJA: AINDA VALE A PENA?


Essa pergunta tem constantemente ecoado em minha cabeça, e isso a pelo menos um ano. Ontem estava ouvindo uma mensagem na Igreja pelo meu querido amigo Lucas (e o Lucas na minha vida, além de amigo, foi meu primeiro mentor espiritual) onde ele expôs toda sua frustração, dúvida e desespero existencial que provém da desilusão que muitos tem tido com a instituição chamada “Igreja”, e mais uma vez essa pergunta ressoou em meu coração.

Não sei se digo feliz ou infelizmente, mas a frustração do meu amigo não é só privilégio seu, pois tenho encontrado muitos outros, se não na mesma intensidade, mas com as mesmas dúvidas.

Ver pessoas como o Lucas falando e se expondo daquela forma me causou uma impressão “assombrosa” (se é que posso usar esse termo). Ele representa pra mim o ínicio de uma caminhada na igreja onde eu acreditava nesse projeto, onde pessoas como ele me faziam “baixar a guarda” e resolver então apostar na grande loucura de ser uma evangélico.

Porém assistir pessoas como ele repensando e reavaliando a possibilidade de ser evangélico é pra mim uma espécie de confirmação do que minhas opiniões e leituras me conduziram ao longo desses anos. A grande pergunta que ficou clara durante toda a mensagem do meu amigo era se a igreja ainda era um projeto válido para os nossos dias (e talvez para todas as épocas).

Tenho me feito esse mesmo questionamento. Fico matutanto se vale apena investir nesse processo. Mês passado escrevi sobre meus sete anos de conversão, e vivo fazendo essa regressão sempre que me dou as voltas com essa pergunta. Nesses sete anos conheci muita gente boa, mas também conheci muita gente que não entendia nada do evangelho, e ao conviver com elas, enxergava em mim as deficiências que buscavam se esconder por trás da aparência de “crente”.

Ouvia muito falar que a igreja era como um “Hospital” ou mesmo a “Arca de Noé”. Hospital no sentido de ser um lugar para todos os doentes (aqui só se inclui doenças espirituais, como se fosse possível separar e discernir tão facilmente as enfermidades que acometem o homem), e arca por ser um lugar que salva tanto os animais puros quanto os impuros. Porém, tenho visto que o tal hospital tem sido um ambiente mais adoecido do que mesmo um local de cura, e a tal arca está perdida e prestes a naufragar no dilúvio que não cessa.

Ouço tantos clamores, tantos “bastas”, tantas convocações a uma “nova reforma”, mas nada acontece. Muito discurso e pouca ação é que povoa muito de nossos ambientes “cristãos”. Existe hoje muita disposição da nossa parte para ouvir e fazer críticas, algumas delas na esperança de mobilizar alguma reação de mudança, já outras pelo puro de prazer de criticar; mas são poucos que estão realmente dispostos a tomar alguma atitude, mesmo que essa atitude seja apenas de foro íntimo.

Então me pergunto: “Vale a pena investir nesse projeto?” Essa pergunta tem sido pra mim terrível, pois ela exige de mim atitude, e quanto mais me exige, mais me percebo avesso a certas mudanças, principalmente as radicais. Às vezes me pego desacreditado desse sistema, entediado com nossas programações e prática religiosas que não representam a essência da mensagem de Jesus.

O que é o Cristianismo? Segundo o dicionário, Cristianismo é o conjunto de religiões que se baseiam nos ensinos, na pessoa e na vida de Jesus. Mas será que é isso mesmo? Sejamos honestos: o Cristianismo tem afastado-se dos ensinos e da vida do Cristo e tem sido cada vez mais o conjunto de religiões que se baseiam em seus próprios dogmas e interpretações (geralmente contraditórias e controversas) aos ensinos de Jesus.

Existe salvação para isso? Existe restauração? Vale a pena ainda investir?

Antes que alguém leia esse texto e me acuse de ser contra o costume de congregar os cristãos, afirmo veementemente que não é essa a minha intenção. Reunir-se é algo extremamente necessária, viver como ajuntamento (ecclesia) é primordial. Porém, o modelo, o discurso, a “teologia” e a práxis que tem vigorado até hoje tem estado de acordo com a verdadeira essência do que é ser uma comunidade cristã? O empreendimento que chamamos de “Igreja” é o melhor “modelo” de viver como cristão?

Como essas questões me atormentam! Quanto mais vivo, mais me certifico da doença terminal que tem acometido esse sistema chamado “cristianismo”. O que sei é que há uma base para se recomeçar: a própria mensagem de Jesus, que está ao nosso dispor, e que é reinterpretada continuamente pelo Espírito. Mas a mensagem de Jesus pode ser realmente “ela mesma” dentro dos ambientes cristãos que conhecemos hoje? Precisamos sair e construir novos ambientes ou ainda vale pena investir nesse projeto?

Às vezes sinto que a resposta quer ecoar (ou mesmo já tem ecoado) em mim mesmo dentro de todas as minhas dúvidas e interesses (e quem não tem interesses?). O que preciso é de discernimento e coragem para assumir os riscos de uma opção radical, pois como disse meu amigo Lucas, “uma hora esse ‘negócio’ vai estourar!”


Senhor, tem misericórdia de nós!

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