sábado, 5 de abril de 2008

IGREJA À SERVIÇO DA COMUNIDADE

A grande oportunidade de Deus para as nossas vidas como Igreja é a busca por relevância na comunidade onde estamos inseridos. O sentido da fé, da existência da igreja e da proclamação do evangelho se dá quando elas funcionam como instrumentos de transformação de vidas. Enquanto desperdiçamos energia em discussões doutrinárias tolas ou em “profetismos” vazios, pessoas estão em nossas igrejas buscando muito mais do que simples palavras de animo e incentivo. Como já escrevi anteriormente, nossos templos precisam ser centros comunitários, onde a vida em abundancia, com qualidade, se torna mais sagrada que a religião e seus rituais. O Rabino Jonathan Sacks expressa isso de forma marcante no texto que cito de seu livro (Para curar um mundo fraturado, editora Sêfer). Leiamos para refletir:

...Andrew Mawson é um clérigo cristão que transformou uma igreja antiga e decadente de Londres em um dos complexos comunitários mais ativos da Inglaterra: o Bromley-by-Bow Centre. Atualmente o centro mantém 125 atividades semanais em uma área de três acres situada num dos bairros mais pobres da cidade. Elas incluem uma creche, um centro de saúde, programas destinados à família, uma série de projetos ligados às artes e à educação, sete iniciativas comerciais de caráter social e um restaurante.

... Andrew conheceu Sheila (esse não é seu verdadeiro nome) por meio do trabalho (“Qual é seu método para chegar até as pessoas?”, perguntei-lhe certa vez. “Eu ouço as fofocas”, ele me respondeu). Ele estava empenhado em um de seus primeiros projetos, a construção de uma creche, e a creche precisava de uma cozinha. Perguntou ao grupo à sua volta: “Alguma idéia?” Sheila disse: “Eu sempre sonhei em ter meu próprio restaurante.” Na ocasião ela criava um filho sozinha e estava desempregada. “Convide minha esposa e eu para jantar. Vamos ver como você cozinha”, Andrew sugeriu. Foi um bom jantar. Propôs a Sheila: “Vou dar a você uma sala da igreja, de frente para a rua. Nós pediremos aos vizinhos que façam o trabalho de carpintaria. Arrecadarei o dinheiro para comprarmos um fogão e vamos ver o que acontece.” Deu certo. O restaurante cresceu, tornou-se ponto de referência da comunidade, o lugar onde as pessoas se encontravam. Ampliado e reformado uma segunda vez, foi reinaugurado pelo Príncipe Charles. Enquanto tudo isso acontecia, Sheila desenvolvia novos interesses. Um dia, ela disse: “Eu sempre quis ter um diploma universitário.” Havia saído da escola sem qualquer qualificação profissional. Andrew persuadiu uma universidade a aceitá-la como aluna. Sheila formou-se com honras em psicologia social. Tinha crescido como pessoa de uma forma que não poderia esperar até o momento em que encontrou Andrew.

... O método de Andrew é simples: ele descobre as paixões das pessoas e as apóia, procurando recursos para viabilizá-las, criando equipes e, acima de tudo, fazendo com que essas pessoas acreditem que podem fazer aquilo que sonham fazer. Andrew já transformou centenas de vidas. Deixou de ser difícil, para mim, acreditar na existência de anjos.

(Sacks, Rabino Jonathan. Para Curar um Mundo Fraturado: A Ética da Responsabilidade. São Paulo. Sêfer, 2007. Págs. 319-320)

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