quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Uma História de Amor - Ricardo Gondim


Gostaria de comecar o ano de 2008 no meu blog com esse texto maravilhoso do Pr. Ricardo Gondim muito inspirativo. Feliz Ano Novo!




Meus queridos netos, hoje vou contar para vocês uma história impressionante.


Era uma vez, um homem muito birrento, teimoso como uma mula. Um dia ele sentiu, não se sabe como ou porquê, que Deus queria salvar um país vizinho. Mas ele não tolerava aquele povo; achava que eram maus, perversos, até não poder mais. Pensava, inclusive, que não devia se envolver com quem não merecia; que devia deixar que a história tomasse o seu próprio curso e que a degradação deles os levasse até a ruína total. Contudo, a palavra misericórdia martelou na cabeça dele com força até que não conseguiu dormir direito. Esse camarada resolveu fugir para muito longe.


O nome do fujão era Jonas. A cidade que ele não tolerava chamava-se Nínive. Então Jonas pegou um navio na direção oposta, para uma terra chamada Társis. A viagem foi tempestuosa com prognóstico de desastres ainda maiores. Os marinheiros, suspeitosos de que alguém ali carregava energias negativas atraindo a maldição dos deuses, jogaram sorte para saber quem trazia tanto azar. Bingo! Os dados mostraram que era o tal do Jonas e que havia uma contenda entre ele e o seu Deus. Não teve jeito, Jonas teve que ser jogado no mar para aplacar a ira divina.


Ainda hoje os marinheiros contam que esse Jonas foi engolido por um grande peixe e que, mesmo se derretendo dentro da barriga do monstro marinho, teve tempo de dialogar com o seu Deus - naquele tempo, as pessoas podiam sobreviver na barriga dos monstros marinhos. Jonas estava brabo, mas perdeu a discussão com o Todo-Poderoso – e quem poderia ganhar? Ele acabou cedendo em sua birra contra o Senhor e disse: “Ta bem, ta bem, eu vou. Vou fazer da minha vida um sacrifício a ti”. E ainda pensou: “Perdido por um, perdido por mil”.


Pelos portos do mundo, conta-se que Jonas ficou três dias na barriga do peixe, mas, depois, foi visto caminhando pela praia afirmando, inclusive, que o peixe tinha vomitado ele. Só depois desse aperreio todo, Jonas aceitou ir para Nínive.


Nínive era uma cidade enorme, parecia um labirinto. Naquele tempo não havia planejamento urbano e as pessoas construíam suas casas sem organização. Um homem normal passaria uns três dias para atravessá-la de um lado para o outro, mas, como Jonas estava com muita raiva, fez o percurso num só dia.


Jonas não queria bem a aquele povo de jeito nenhum; e sem vontade alguma, gritou feito um doido: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída”. Imaginem, meus filhos, a má vontade deste profeta, que já antecipava aonde ia dar tudo aquilo.


Para resumir uma longa história, o rei de Nínive se apavorou – ele já andava preocupado com a decadência moral, espiritual e financeira do povo. E por ser muito supersticioso, logo que soube do mau agouro do profeta zangado, proclamou um dia nacional de arrependimento; ninguém comeu nada, nem os bichos ou os animais de estimação.


Aí, Deus soube do ocorrido e mandou um novo recado: “Tendo em vista o que esse povo fez e como abandonou os seus maus caminhos, eu me arrependo de ter falado em destruição. Não vou destruir nada e nem ninguém”.


Quando Jonas soube que Deus havia se arrependido, ficou maluco; profundamente descontente. Sua fúria foi total, ao ponto de falar com Deus com raiva: “Senhor, não foi isso que eu disse quando estava em casa? Fique sabendo, que foi por isso que eu me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar, mas depois te arrependes”. Jonas ficou tão zangado com o arrependimento de Deus, que pediu para morrer.


Jonas fugiu de novo, mas agora só queria ficar sozinho e curtir a sua raiva. Ele se escondeu no lado do nascente da cidade, fez uma latada e ficou embaixo dela; dizem que ficou muito tempo emburrado, sem querer falar com ninguém. Deus, que não desiste dos brigões, fez crescer uma plantinha bem bonitinha para protegê-lo do sol. E como Jonas estava muito abatido e só, acabou por se afeiçoar pela ramagem. Um dia, quando acordou, a plantinha estava morta pelas lagartas. Nessa manhã, Jonas chorou muito.


Deus perguntou por que ele chorava. Jonas disse que sem a sua plantinha se sentia desprotegido, e que ela se tornara especial porque aprendera a amá-la. Deus então arrematou – olhem, quando Deus arremata, a gente fica sem palavras: “Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda – eles não sabem o certo do errado. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?”.


Assim meus netos, nunca fiquem com raiva de Deus quando ele se arrepender. Os humanos só têm medo de perder a sua reputação porque não amam de verdade. Quem ama com um amor perfeito não “tem por usurpação que o ser igual a Deus seja algo a que se deva apegar, mas se esvazia e toma a forma de servo”.


Deus nos ama com o mais perfeito e puro amor e ele não tem medo de parecer inconsistente e nem precisa preservar a sua reputação divina – lembrem-se que para exercer misericórdia é preciso não ter medo de voltar atrás. Deus é compassivo e misericordioso, por isso, eu chamo de Graça a sua mais perfeita persistência em amar.

Soli Deo Gloria.

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