terça-feira, 8 de maio de 2007

Especulando o que já foi revelado


João 14:1-10

Todo mundo sabe que a bola da vez nas discussões teológicas evangélicas é sobre Deus. Quem é Deus? O que Deus faz? Ele está na história? Ele sabe tudo? Somos questionados sobre isso com uma freqüência que chega a ser incomoda.


Quando me vem essas discussões, lembro desse texto do evangelho João, que mostra que os mesmos debates tolos já faziam parte do passado remoto da Igreja.

Pense comigo:

Nesse texto Jesus está se despedindo dos seus discípulos. Está ali na verdade fortalecendo eles para que entendam o ponto alto da sua missão que estava chegando. Nos evangelhos sinóticos, eles apenas ouvem, não entendem, e seguem como se aquilo não importasse muito, porque os apóstolos dos sinóticos são homens da prática, iletrados, não dados a muitas questões teológicas. Já os apóstolos de João são questionadores, teólogos, o próprio evangelho é bem mais teológico que os demais.


Como João é um evangelho tardio, entendemos que ele revela a evolução do pensamento na Igreja. Quanto mais contato com as questões filosóficas, a Igreja começa a se distanciar da prática, da ação e principalmente da simplicidade do evangelho.

Essa parte do evangelho que estamos vendo mostra justamente essa busca pela simplicidade do evangelho.


Note a primeira pergunta:

Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? (Jo 14:5)


Jesus afirma que eles sabiam para onde ele ia. Mas Tomé, aquele que precisa de provas, de razoes, de base experimental para sua fé. Como o senhor pode dizer que sabemos o caminho? Não sabemos!


Enquanto ele desejava um caminho esotérico, místico, espiritual, Jesus o responde com uma afirmação de dar nó na cabeça: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. (14:6)


Enquanto ele buscava a essência, o fim da especulação sobre qual é o caminho para Deus; Jesus apenas afirma que ele, o exemplo dele, o amor dele, o sacrifício dele, é o caminho para Deus, é a vida com Deus e a verdade que filósofos, teólogos e discípulos curiosos tanto buscam. Em Jesus acabou a especulação sobre Deus e sobre o seu caminho.


Porém, Filipe não entendeu, e na esteira de Tomé ele faz a seguinte pergunta: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta (14:8).


Quem pergunta pelo caminho é porque quer ver Deus. E quem vive especulando sobre Deus fora de Jesus, está apenas andando em círculos. É a ciranda da Teologia, rodando em torno da suas questões filosóficas.


Em Jesus morre questões teológicas. Na única vez que Jesus se prestou a discutir teologia, foi com doze anos, no Templo juntamente com os rabinos da época (Lc 2:46-47), porque discussão teológica geralmente é coisa de criança. Os apóstolos continuam nas discussões filosóficas e teológicas, abandonando o que realmente vale; que são as obras (e obra não é moral, deixar de pecar, ou coisa do tipo, mas simplesmente ser o mais semelhante a Jesus em amor).


Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. (Jo 14:9-10)


Nossas discussões teológicas pretendem mudar nossa prática; mas quanto mais discutimos, especulamos, menos obras demonstramos. E Por quê? Porque não há mais o que se discutir, e sim o que fazer. Jesus é o fim da especulação religiosa; aliás, ele é o próprio fim da religião. Suas palavras definem, porque o que se tem que saber de Deus foi revelado nele, ele é o Logos, o Alfa, o Ômega, ou seja: o fim da especulação.


Se há “alguma discussão” pra se fazer, é a discussão de como pararmos de questionar e passar a fazer. Teologicamente falando, é uma discussão eclesiológica. Enquanto queremos entender Deus e ajudá-lo a se entender, o certo é demonstrar Deus e vive-lo naquilo que nos foi revelado, e isso é questão de fé, e não de lógica.


Precisamos entender isso!

O quanto antes!


Como diz o salmista: “Até quando Senhor...!”

Jorge

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