quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O EVANGELHO DE JOÃO E A “SEMANA DA NOVA CRIAÇÃO”

Ler o evangelho deve ser um exercício de pura atenção, caso contrário, ricos detalhes poderão passar por nossos olhos de forma despercebida.

Se lermos com atenção os capítulos 1:19-51 e 2:1-12, algumas detalhes poderão saltar aos olhos:

A narrativa se desenrola no contexto de sete dias, uma semana completa, que vai do Batismo de Jesus até as bodas de Caná. Sem recorrer a tipologias ou mesmo alegorias entre o que João escreve e o texto da criação de Genesis, o fato do evangelista ter colocado essa semana em evidência nos revela a missão do Verbo que habitou entre nós: A nova criação, a salvação.

Não há criação sem salvação, o Deus que cria é o mesmo que salva/recria.

Jesus faz discípulos e transforma água em vinho, salva e recria, restaura, transforma. Essa é simplesmente a verdade do evangelho.

Só para corroborar, note que o evangelho de João consta apenas sete milagres narrados, chamados sinais, e isso é novamente uma alusão a semana da criação. Jesus mostra seu poder divino e re-criador operando sobre o natural de forma sobrenatural.

A salvação não é só Deus resgatando o espírito, mas o sobrenatural agindo sobre nossa natureza corrompida. Isso é a própria essência da Graça, o fato definitivo que a salvação é sobrenatural.
Outro ponto que o evangelista deixa claro na “semana da nova criação” é que nenhum rótulo pode conter o que Deus tem a fazer em favor do mundo. Os chefes da religião vão até João Batista e perguntam se ele é Elias, o Profeta ou o Messias.

A mente religiosa só sabe ler rótulos, mas não compreende o que está por trás dos rótulos. Os rótulos escondem o verdadeiro conteúdo.

João Batista não aceita rótulos. Até mesmo porque ele se vê como alguém que possui identidade perante Deus. Ele possui um chamado específico que não está fechado à identidade de Moisés, Elias, ou do tão aguardado Profeta. A mente religiosa só compreende aquilo que ela pode rotular. Mas Deus, em Jesus e em João Batista, quebra rótulos e faz as coisas acontecerem de maneira “não-convencional”.

Para João Batista, Jesus é o que Batiza com o Espírito Santo. O rótulo Messias “não cola” em Jesus, até porque a concepção messiânica naquele período estava corrompida. Portanto, o evangelho joanino fala de Jesus fora da “forma” pré-concebida. Doador do Espírito Santo condiz mais com a noção que essa semana da “nova criação” sugere no evangelho de João.

Doador da Vida, do Espírito, não cabe em nenhum rótulo, pois o agir de Deus não cabe em nenhuma idéia ou forma, mas transborda além de todas as concepções.

A semana da nova criação em João é isso: a manifestação do Doador da nova vida, que faz nova todas as coisa, que transforma não água velha em água nova, mas sim em vinho novo.

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