quarta-feira, 19 de março de 2008

Intercessão

Dentre os vários tipos de oração, existe um que talvez seja a mais incompreendida e a menos praticada em nossa cultura hoje: a oração de intercessão. Incompreendida porque a palavra intercessão ganhou um sentido vago em nossas mentes, pois achamos que para interceder basta perguntar qual o problema e assim mandar bem na oração com Deus para que aquele problema seja resolvido. Menos praticada porque nossa cultura baseia-se no egoísmo e na indiferença com o próximo, e não nos enganemos, pois esta cultura adentra nossas paredes eclesiais mais do que possamos perceber.

Apesar do descaso e da percepção errada acerca do que é intercessão, a Bíblia possui vários textos que falam da importância da oração intercessória entre o povo de Deus. Ela é um elo importantíssimo na relação entre Deus e a comunidade, e envolve não somente palavras, mas também atos intercessórios.

Primeiramente devemos compreender o que significa intercessão.

Segundo o Dicionário, Intercessão significa suplica, apelo, apresentar petições a alguém em favor ou contra outrem. Nesse sentido, ela tem certa diferença com o termo advogar. Quando alguém advoga em nosso favor, ele faz uso dos nossos direitos para nos defender em uma causa. Porém, quando alguém intercede por nós, geralmente não temos direitos que nos defendam, somos realmente culpados e a lei não está ao nosso favor.

Esse é o sentido mais utilizado para a prática da intercessão no Novo testamento. Sempre a uma terceira pessoa que apela a nosso favor junto a alguém, pois estamos incapacitados de suplicar por nós mesmos.

Nesse sentido, é afirmado que Jesus é o nosso intercessor perante Deus, pois apenas ele pode conquistar em nosso favor o perdão divino (Hb 7.25). Sua obra implica a morte, a ressurreição e a intercessão perante o Pai, sendo assim, não há mais condenação (Rm 8.34).

O Espírito Santo intercede em nossas fraquezas (Rm 8.26), ele não ora por nós, mas em nossa falta de sabedoria ele nos complementa diante de Deus, pois apela em nosso favor segundo a vontade de Deus e para que essa vontade se cumpra em nós.

Sendo assim, a intercessão significa um somatório de forças, que nos completa em nossas fraquezas, originária de um coração solidário e compreensivo. Pela solidariedade de Jesus somos libertos, e pela compreensão do Espírito somos edificados, apesar das falhas e fraquezas.

Baseados nessas verdades; podemos visualizar os grandes benefícios que a intercessão opera na vida da igreja:

1. O intercessor aprende a defender o próximo que está em situação de desvantagem. Essa é a verdade do texto de Ezequiel 22.30. O intercessor luta, não somente em oração, mas também em atitudes, para defender o irmão que está em momento de fraqueza, e se coloca nesta situação até que os “buracos sejam tapados”. Nisto, ele não apenas intercede orando, mas também fazendo o que estiver em seu alcance visando à restauração do próximo.

2. O intercessor se afasta do egoísmo, pois aprende que seus problemas não são os únicos da face da terra. A oração intercessória de Jesus no capítulo 17 de João era para que a Igreja fosse uma unidade semelhante à relação entre ele e Deus. Não há exemplo maior de unidade quando a Igreja aprende que a causa de um é a causa do grupo. Orações demasiadamente centradas no ego são ao mesmo tempo causa e efeito do processo de individualismo que adentra nossas vidas e nossas igrejas.

3. A Intercessão contribui para que eu me torne mais compreensível com as fraquezas alheias, que são espelho das minhas próprias fraquezas. Para que sejamos bons intercessores, devemos aprender que a misericórdia é para os fracos, para os verdadeiramente pecadores. Qualquer posição de julgamento da parte do intercessor o torna completamente inválido para tal missão. Amor, solidariedade e compreensão são essenciais para que a intercessão sirva como um elemento restaurador de vidas. Quem intercede, enxerga no outro as suas próprias mazelas.

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